LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Ana Chagas Campo Mourão/PR
A amargura do interior Ser um adolescente do interior do país não é nada fácil, por mais incrível que pareça a vivência ali nunca trouxe paz para ninguém, ou ao menos eu no meu círculo social estupidamente pequeno eu acho que não, ainda mais sendo um canibal. A falta de carne humana nesse lugar é absurda, devido à má alimentação dessas pessoas só restam gente seca para comer, mas ainda assim é tudo que eu tenho disponível, então eu consigo me virar com esses recursos. Lembro o meu primeiro, era uma presa fácil e eu realmente me aproveitei disso, como você deve imaginar é apenas uma história clichê, eu o levei para minha casa e o mantive em cativeiro sendo forçado a ligar para sua família e dizer que estava bem. Pobre garoto, os que são como ele- adolescentes, pardos, vivendo suas respectivas vidas normalmente- nunca acreditam que vão ser as vítimas e isso torna a caça praticamente banal. Primeiro eu desmembrei-o e retirei a pele da coxa, e cortei bifes em porções pequenas, era um ser muito grande para ser comido de uma só vez, e fiz o mesmo processo com as costas. O pênis era carnudo, então cortei ele também, infelizmente tive que jogar muita coisa fora, mas o que eu poderia fazer no final das contas? Pensei em vender, mas o gosto amargo da carne me entregaria. Sinto saudades desse tempo, existem algumas coisas que só se faz pela primeira vez, porém essa não foi a única vez, e não consigo imaginar a última, eu amo as pessoas
vivendo
em
mim,
fazendo
parte
de
quem
eu
sou,
e
espero
genuinamente que alguém venha a me ter em seu corpo, um dia, quem sabe um dia.
25