LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Clarice de Assis Rosa Ituiutaba/MG
Insignificância
Sempre fui um cara simpático, e me gabava por isso. Gostava de chamar atenção e usar meu charme para atrair mulheres. Elas quase nunca resistiam ao meu encanto, apaixonavam-se facilmente. Não gostava quando ficavam no meu pé. Uma vez satisfeito o meu ego, eu queria novidade, sair com outras, mas não podia negar que, em um primeiro momento, agradava-me receber ligações, mensagens pedindo por novas oportunidades de sair comigo. Lisonjeava-me observar o quanto se humilhavam em troca de um pouco de atenção e carinho. Porém, o problema não estava relacionado ao fato de não ter sentimentos – como já ouvira – e sim de gostar de todas, simultaneamente. — Charles, você ainda vai se dar mal, uma hora você se apaixona por uma de verdade e é você quem vai sofrer. — Que nada! Isso é impossível, tenho todas as mulheres que quero aos meus pés. Frequentemente, saía com uma diferente e já houvera ocasião em que saíra com mais de uma em um só dia. Mas não achava que fazia nada de inadequado. Era gentil com todas e sabia conquistar uma mulher. Antes de conseguir o que realmente lhe interessava, passeava de mãos dadas, ia ao cinema, dizia que amava, fazia muitos elogios à escolhida... até terminar a noite em um motel. As mulheres de sua família achavam um absurdo, diziam que ele estava iludindo as pessoas sem ter intenção de um relacionamento sério, no entanto, isso não o afligia; divertia-o e, quanto mais mulheres conquistava, mais se considerava fascinante. Envolvera-se em diversos problemas: era mulher ligando ininterruptamente, mandando mensagens, indo ao seu trabalho, humilhando-se, querendo agredi-lo. Fugia de todas, não era sua intenção namorar com qualquer uma delas. Frequentemente, quando chegava em casa, vindo de sua rotina agitada, ele relembrava as suas conquistas, mas, inevitavelmente, sempre vinha à sua mente uma pergunta inoportuna, que o incomodava pensar: “o que cada mulher que eu saí acrescentou a minha vida?” — Pode não ter acrescentado nada, mas me fez bem ,satisfez meu ego, me fez sentir imponente, bonito – respondia de si para si. Quando não estava trabalhando, tentava sempre estar com alguma mulher, como se precisasse provar a si mesmo que era capaz de conquistar a mais difícil que fosse. Seus amigos foram casando-se, constituindo família e cada vez ele ia ficando mais isolado, pois casais chamavam pessoas na mesma situação conjugal para
47