LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
lembrava muito bem dos outros planetas. Onde seus parceiros, deslumbrados pela beleza exótica dessas terras, retiraram seus capacetes em busca de ar puro, porém, o único ar que seus cansados pulmões puderam sentir, puderam absorver, foi um gás pútrido, que queimava como ácido, e que derreteu lentamente todos seus órgão, de dentro para fora. Não! Pensou o homem. Não irei morrer assim. Quero chegar mais próximo ás tulipas, quero ouvir as canções que elas sussurram uma para a outra, primeiro. Mesmo que isso não passe de imaginação. Ele sabia que iria morrer. Estava certo disso, mas tinha a opção de escolher em como morreria, e ele não abriria mão daquilo. Daquela pequena liberdade. O sol forte refletia no vidro de seu capacete, deixando sua visão ainda mais embasada. Contudo, seus passos continuaram firmes, mesmo que agora em um ritmo mais lento. A brisa soava dentro de seus ouvidos, trazendo consigo a doce melodia tocada pelas tulipas, mas o som estava cada vez mais distante e entrecortado, como se tocada em um vitrola que insistia em falhar. Sabia que estava lentamente perdendo os sentidos, que estava imagina tudo aquilo, aqueles sons, aquele cheiro. Sentiu que sua consciência estava se esvaindo. Pensou que não iria conseguir chegar ao campo, não a tempo, mas um objeto duro bateu contra seu pé, o fazendo recobrar os sentidos, ao menos por alguns segundos. Foi o suficiente. Á sua frente
105
uma tulipa com pétalas brancas como nuvens se estendia no ar. As folhas verde-limão abraçavam as pétalas brancas como se a protegessem. E o caule, o objeto duro a qual seu pé a pouco baterá, era forte e esverdeado, e estendia-se cravado no chão até a altura do barriga do homem. A melodia voltou a soar como num clique, agora o homem ouvindo-a de uma forma incrivelmente nítida, viva. As pétalas começaram a dançar diante seus olhos, algo daquilo o acalmava o deixava em paz. Viu sua mão ir em direção aquelas pétalas dançantes e sentiu algo que ele não soube explicar quando seus dedos enfim tocaram as pétalas. Primeiro sentiu que tudo a sua volta tinha ficado mais nítido, suas vistas estavam mais claras - até sentiu que seu coração voltou a bater no ritmo normal. Contudo, sentiu algo gelado como uma névoa -penetrar o duro aço de seu traje e envolver, lentamente, todo seu corpo. Agora ele percebia que essa névoa possuía um tom dourado, o mesmo tom que o sol emitia ao nascer; logo em seguida, como em um flash esse dourado mudou, ficando mais forte, mais radiante, exatamente como o tom do sol em sua maior plenitude ao meio dia; mudando ainda mais rápido, agora aquele tom dourado, tinha um amarelo mais queimado, mais apagado. Mais vazio. E então, após essa luz ter ido embora - como se o sol tivesse desaparecido diante