LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
seus olhos, ele sentiu a escuridão lhe cobrir. Nunca se sentira mais vazio em toda sua vida. Ele se viu no meio da escuridão, mas sentiu que não possuía corpo nem alma ali. Era apenas uma consciência que vagava solta no vácuo do infinito. A escuridão permaneceu por um tempo. Mas luzes amareladas começaram a contornar aquela escuridão, deixando um pouco mais nítido o que tinha ali. A luz tocou, ao longe, uma pétala branca e depois outra, e enfim tocou todas as tulipas que haviam naquele grandioso campo. Era exatamente o mesmo local a qual ele a pouco estivera. Contudo, ele percebeu, que diferente de antes, haviam agora pessoas ali, centenas dela, cuidando, cortando e regando as tulipas. Havia alguns casebres diante do campo. As roupas coloridas e acinzentada que estavam pregadas no varal que se estendia a frente daquelas casas, dançavam sobre o vento suave do fim de tarde. Ele por um momento pensou que tinha morrido e que aquilo era o céu, pois nada daquilo fazia sentido. Contudo, toda aquela cena mudou, rápido como um relâmpago. A luz pálida que cobria o campo ainda era a mesma, porém agora possuía um tom ainda mais fraco. O campo era um mar cinzento. As inúmeras tulipas estavam todas destruídas, quebradas e caídas no chão coberto de cinzas. As pessoas que antes estavam ali cuidando das plantas, agora estavam jogadas entre as flores mortas. Os casebres alegres e os varais de roupa, todos caídos ao chão,
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destruído por seja lá qual fosse a fonte que teria feito aquilo. E o silêncio cobria todo o local, como um manto invisível. Talvez seja por isso que quando ele ouviu um barulho ao longe, mais baixo que um sussurro – aquele som arranhando sua alma como uma lâmina – ele viu sua consciência, que vagava como uma pena no ar cinzento, seguir aquele som. Foi então que viu duas garotas e um garoto, correndo por aqueles destroços – que provavelmente fora seus lares um diatão silenciosamente, que pareciam que flutuavam sobre a terra negra que tinha sobre seus pés. Suas roupas rasgadas dançavam contra a brisa forte do dia e sangue se misturava ao suor que cobria seus braços e pernas, como se fossem uma pintura. Nos braços de uma das garotas, um bebê tentava chorar, mas a mão suja e ensanguentada da garota, cobria sua boca, impedindo que som algum escapasse dali. Eles eram os únicos seres que andavam naquele mar cinzento. Contudo, isso não durou muito, pois seres altos e esguios com a pele azulada e cabelos longo e branco, apareceram a poucos metros daquele grupo, num instante. Como se tivessem sido teletransportados de algum outro lugar para ali. Seus rostos enrugados era uma máscara de indiferença, contudo pelas passadas, ágeis e determinadas, e pela forças que seus dedos agarrava aquelas longas espadas que levavam ao lado do corpo, era notável que