LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
explodisse se ele fosse morto por um gás que queimaria seus órgãos, que se fodesse se seres sobrenaturais pudessem aparecer a qualquer instante e lhe enfiar uma espada no peito. Seria melhor, uma morte mais rápida, pensou ele. Chega! Ele estava farto daquilo. Ainda com o bipe soando alto nos ouvidos, apertou o botão. O bipe parou. O vidro embasado se abriu. As cores se intensificaram e enfim, enfim, uma brisa leve beijou seu rosto suado. Seus joelhos caíram sobre a grama macia do campo e finalmente seus pulmões respiraram livremente aquele ar puro, que tinha um cheiro doce, um cheiro de terra, um cheiro de vida. E então se permitiu chorar. A realmente chorar. Por tudo que tinha vivido até chegar ali, naquele planeta estranho. Por sua família e amigos que tinham perdido suas vidas em busca de um planeta como aquele; pela angústia que sentia no peito sempre que pensava que morreria sozinho dentro daquele traje sendo aquele bipe seu único parceiro. Chorou até sentir seu corpo ir ficando mais leve, e o peso que há tanto tempo habitava em sua alma, ir se esvaindo ao vento. Queria sentir aquele ar, queria encher sua alma com aquele ar puro, mágico e doce. Sim, pensou ele levantando a cabeça ao se lembrar da tulipa branca que jorrava aquele aroma doce na brisa fresca. Foi por causa das tulipas que consegui chegar até aqui. Elas de algum modo, juntas, emitiram um sinal de ajuda, de socorro para o espaço. Aquela mão... que segurou o pé
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da criatura, que a impediu que eles chegasse perto das crianças, ele se lembrou exaltado, era um sinal, um sinal de resistência, e e... suas mãos se apoiaram sob a grama verde, fresca, viva Se as tulipas me mostraram aquela memória em específico, queriam mandar uma mensagem para... mim, ou para o ser que ouvisse o chamado. Eu sou, pensou assustado, sou o homem encarregado de procurar por aquelas crianças, por aquelas poucas pessoas que tinham escapado do massacre. Tentou não sentir a responsabilidade que aquilo trazia. Ele se levantou, limpando as lágrimas dos olhos, e olhou para aquela tulipa e para as outras além dela, que pareciam estar paradas, mesmo diante da brisa leve que percorria o campo, como se fossem pessoas e que quisessem prestar atenção no que ele iria dizia. Ele disse, com a voz ainda um pouco embargada, mas firme: — Hoje, aqui nesse lugar, faço uma promessa a vocês. – ele retirou o capacete sujo da cabeça, e agora seus cabelos avermelhados dançavam entre a brisa, como raios de sol. – não importa o que eu tenha que enfrentar: aquelas criaturas cruéis; a fome ou a sede. – as pétalas pareceram se mover um pouco, como se dissessem para que ele continuasse. – sei que vocês sacrificaram suas vidas para salvar aquelas crianças, e darei tudo de mim