LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
cheio de desdém, altivez e falsa modéstia. — Mas é com algum estrupício que tão te obrigando a se casar é compadre? — Que estrupício coisa nenhuma, eu não caso é com a Princesa Magalina. — Mas hôme isso é coisa que se diga!... Quem já se viu não casar com uma Princesa... Ela tá no caritó é?... Ficou pra titia, foi? — Não, ela é bem novinha, é que eu também não quero ser rei, vou eu lá aguentar aquela leseira pro resto da vida? Eu não! Tenho coisa melhor para fazer do que casar com aquela pinoia!... — Ô compadre, e se eu ficar... — Isso mesmo, é só ficar no meu lugar e dizer que casa com a boboca e pronto. Eles te soltam, te levam para o palácio, você casa e tudo fica resolvido. Eu fico com teus bois e tu viras rei e tudo certo. — Oxente!... É pra já, negócio feito!... Vamos acabar logo com essa arenga!... — Vai logo que os vassalos do rei já vêm vindo da cagança. Mais que depressa fizeram a troca, Malaquias pegou seus bois e toda manada e seguiu estrada. Os capangas ao voltar ouviram outro tipo de lengalenga de dentro do saco. Era o matuto falando aos gritos: — Caso... Eu caso!... Agora eu caso, resolvi casar!... Me levem de volta. Agora eu caso, e serei vosso rei. Vamos me soltem! Os capangas ouvindo aquilo caíram na gargalhada: — Tá, vamos soltar já, espere um pouquinho viu meu rei! E passou a mão em sua cabeça, por cima do saco fechado, enquanto o outro amarrava uma grande pedra em suas pernas. E levaram-no até a ribanceira do rio. E, segurando um pelo tronco e outro pelas
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pernas, contaram: um, dois, três, zapt, zumpt... Já!... E lá se foi o matuto parar no fundo do caudaloso rio. Nesse ponto da estória, Sandoval o mameluco, confundiu mais uma vez o enredo e misturou o de seu conhecimento com as dos causos dos sertões que minha avó contava. Após dois anos Malaquias Serafim Fim Fim passa pela frente da casa grande do Engenho Raiz Nova, onde o senhor João fazia a sesta na rede do alpendre, refestelando-se de sua boa vida. Gozando do bom e do melhor, usando e abusando dos capiaus do lugar. No meio do cochilo ouviu o aboio: — Êh boi!... Êh vaca!... Espantado, se arribou da rede num pulo e perguntou para seus botões: “De quem era aquela voz?”. Para enxergar melhor puxou o monóculo para a ponta das ventas e se abismou com o tamanho da boiada que passava bem à frente de seu nariz, e viu estupefato de quem se tratava. “Pois não é que se tratava daquele amarelinho safado que se atrevera com sua filha Magalina no dia de sua chegada ao engenho Raiz Nova!” – pensou indignado –. Enroscou os dedos em sua carapinha, e desconfiado indagou: “Será que esse mequetrefe achou uma botija no fundo do rio, como esse biltre se safou?... Se ele havia mandado jogálo no fundo do rio.” – para tirar a prova dos nove, gritou: — Ei, você aí! Venha cá! — Pois não, senhor João, como vai sua senhoria? — Oxente!... E tu não morreste não, é? — Morrer eu morri, pois como o senhor mandou, seus cupinchas