LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
ao senhor Veríssimo indagou:
e o
senhor o
— Já faz tempo que está se esgarçando dia após dia, neste sol quente, nestes dias as vezes de ventania. Por nada? As mudas ainda não cresceram ao ponto de virarem flor, ainda são pequenos brotos insignificantes. Onde tu moras? Onde tu vives para gastar teu tempo com tanto trabalho? — Eu vivo em um lugar onde tenho o meu sossego, onde pessoas como eu mora, onde a vida me colocou e eu não posso reclamar. Sim, ainda são mudas insignificantes, mas um dia germinarão, serão flores lindas. E quando elas estiverem no auge do seu esplendor não serão mais tão insignificantes para o senhor. O que me dói é que ninguém se importa com elas agora, mas a beleza atrairá até mesmo as abelhas e os beijaflores. — Faz o seguinte, eu não sei se gosta de livros ou se sabes ler bem ou mal, mas te darei três livros e quero que você em dias que não precisar ir à praça, leio-os. Com o tempo, se quiseres também pode vir buscar mais alguns comigo. — Eu vou ficar muito contente, sei ler o pouco que a vida me ensinou. Mas tudo o que eu souber, eu vou ficar muito grato de ler nos livros. — Certo. – disse o senhor pegando os livros em uma estante. O andarilho foi embora com os livros, naquele dia, tinha levado um simples carrinho, que foi descartado
sem uma roda perto do viaduto. O andarilho o consertou e o que não tinha mais utilidade para alguém, foi sua principal ferramenta, tanto com o trabalho da jardinagem na praça, para como auxílio de suas andanças. Então ele pôs os seus ganhos nele e foi buscar, o pão ou os trocados que encontraria pelas esquinas. A noitinha ele retornou para debaixo do viaduto. E como prometeu ao senhor, não foi a praça no dia seguinte. Era dia 28 de janeiro de um ano qualquer, e os pilares que sustentavam aquele viaduto se romperam. Não deu tempo de o andarilho interromper a sua leitura, ele estava deitado, calado e sem conseguir reagir, a vida o levou, sem pedir, sem avisar. O ônibus e do carro de luxo, também não conseguiram parar a tempo, quando passavam por ali. A vida levou o motorista daquele ônibus, apenas mais um proletário, o rico que dirigia o carro, e alguém sem nome, sem identidade, que morava debaixo daquele viaduto. Foram horas para remover os escombros, para encontrar as pessoas ali. Porém só se soube da história do homem rico, que dirigia o carro importado e usava terno e gravata. Lá na praça, as crianças brincam, as pessoas passeiam. E os transeuntes que desprezavam os canteiros antes, naquele 5 de fevereiro, quando os girassóis desabrocharam, sorriram.
@samanta_aquino28
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