LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
Valéria Vanda Xavier Campina Grande/PB
O dilema de Letícia
O pátio da escola naquele momento, fervilhava de mocinhas e rapazes. Hora do intervalo. Escondida atrás do banheiro das meninas, Letícia não queria juntar-se às colegas que a chamavam aos gritos: —Letícia... Letícia! Estamos aqui. Vem conversar conosco! Letícia se fazia de surda. Desde que haviam se mudado de uma cidade pequena do interior para a cidade grande, ir à escola havia se tornado um verdadeiro suplício para ela. Estava insegura. Não se sentia parte daquele grupo de meninas despreocupadas e felizes. Era escorregadia. Um peixe fora d’água naquele novo ambiente. Fora sempre líder de turma em sua antiga escola, mas ali, naquela tão grande, sentia-se perdida, diferente das meninas da cidade grande. Não estava sendo fácil adaptar-se a essa nova realidade. Em sua casa, as coisas também não andavam nada bem. A adaptação também não estava sendo fácil para eles. A família grande. Muitas bocas para comer e poucas para prover. A situação financeira da família com a mudança não era das melhores e isso refletia no comportamento e no aprendizado de Letícia. Não tinha uma “mesada”, como as outras alunas para comprar seus próprios lanches. Letícia levava o seu de casa,
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quando podia e quando tinha. Uma merenda simples que a deixava com vergonha diante das colegas. A hora do lanche era uma tortura. — Vem Letícia. Vem lanchar com a gente. Chamavam as colegas com simpatia quando a viram aproximar-se. —Obrigada meninas, mas não estou com fome —, respondia com um ar indiferente mas morrendo de medo que as colegas ouvissem o barulho que sua barriga fazia. — Estamos te achando triste Letícia. O que está acontecendo contigo? Conta pra gente —. As colegas continuavam puxando conversa; mas ela permanecia calada em seu canto. — Não acreditem.
é
nada.
Estou
bem,
Letícia sempre respondia com evasivas. Sabia que as colegas gostavam dela, mas não conseguia conversar normalmente. Não conseguia se sentir parte delas sobretudo, neste dia que estava sendo o pior de sua vida. Vivia um pesadelo. Um grande pesadelo do qual as colegas não tinham nem noção; e do qual ela precisava urgentemente acordar. Havia saído de casa para a escola vestindo uma roupa de baixo feita em casa por sua mãe. O elástico, já muito gasto pelo uso, havia se soltado e não havia como consertá-lo mais uma