LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
Ninguém me disse que, por mais que eu me esforçasse para ser uma pessoa digna, moldando o meu caráter baseado na boa educação que tive em casa, conquistaria mais inimizades que afetos. Ninguém me disse que seria tão difícil sobreviver em um mundo em que observamos as pessoas desonestas progredirem mais que as honestas. Ninguém me disse, então eu espero as boas novas, que certamente ainda não chegaram porque não cresci o suficiente. Acredito em minha mãe. Não me disseram que a família constituída poderia ser tão facilmente esfacelada, que ser uma pessoa boa não garantiria êxito; casamentos findam-se, os filhos vão embora, podemos deixar de ser interessantes, assim que deixamos de ser úteis. Eu não tinha esse olhar absorto, frio, aspecto cansado, como se estivesse prestes a desistir. Eu não quero abdicar do que espero. Minha mãe não mente. Embora ela já tenha cumprido a sua jornada na terra, suas palavras ainda ecoam em minha mente: “Tudo vai passar...quando você crescer” Assim ela me dizia, e assim eu acreditava. As pessoas foram embora, continuo com medo do escuro, no entanto, a cada novo amanhecer, sinto que o futuro prometido está mais próximo de mim. Taciturnamente, decido que preciso encontrar minha mãe. Somente ela poderia revelar-me quando começaria a usufruir da satisfação de viver tudo o que me fora prometido.
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