LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
gêmeos que vinham visitá-lo, e que adoravam pular em cima do tio mais descolado da família. Adriano, que não teve tempo sequer de clamar por ajuda, foi derrubado da cadeira e feito de alicerce por alguns minutos. Soergueu-se, enfim, mas não conseguiu convencer os serelepes a saírem do quarto. Foi salvo por sua mãe, que, aparecendo à porta com um prato repleto de biscoitos de chocolate, atraiu os comilões para a cozinha sem precisar dizer palavra. Adriano correu a fechar a porta. Depois sentou-se na cama, e, unindo as mãos em respeitosa súplica, rezou pela primeira vez na vida. – O destinatário foi São Judas Tadeu, que sua mãe sempre dizia ser o santo dos desesperados e dos aflitos. Terminada a reza, e as lamentações, o recém-devoto prometeu que se conseguisse um mote a tempo de escrever um conto, só jogaria on line duas vezes por semana, e por no máximo duas horas.
53
É claro que essa promessa só produziria efeitos depois que seus tios partissem. Até lá, não teve como fugir aos seus admiradores mirins. Os parentes foram embora, e nada do tema se revelar. Adriano jantou, escovou os dentes, mas nenhuma ideia despontou no horizonte. Pensou que a inspiração só viria depois de um banho relaxante. No entanto, o máximo que conseguiu foi apressar o sono. O estudante foi dormir com uma dúvida e uma certeza. Esta, que não participaria daquele concurso literário; aquela, que o que prometera talvez não tivesse sido lá muito atraente. No dia seguinte, Adriano foi para a escola a passo lento, meditando no que perdeu e no que ficava como aprendizado. Mas se entrava na classe calado, seu semblante logo se iluminaria. Não que outro concurso se avizinhava. É que sua musa voltava a ficar solteira.