LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
Gisela Lopes Peçanha Niterói/RJ
Dolorem
O rio seco da minha vida encontrou o teu mar encharcado: com tua alegria, tua alforria tua intensa liberdade inaugurada... tão fácil riso, frouxo e largo. Eu, dormente da felicidade olhos cegos e tristes: aleijados — Diante das não belezas, de meus instantes rasos. Mea culpa: vi o mundo em cinza chumbo valsei nas horas impuras nas festas, fui a oculta. As paixões, naufraguei a todas: amor oco. Erma, como um fel do destino árida, como o sol em ruínas coração de pedra, sangue das salinas — Asfixia de minhas lágrimas contidas. Mas pus-me a receber a tempestade que me vinha: transbordando o poço do sedento íntimo; jorravam meus adágios, minhas elegias! Balões negros de granizo em despedida. De beduína do deserto fiz-me pranto: carpideira, vã, líquida menina. Saliva de areia fez-se seiva, pura água benedita — Então eu chorei... como a chuva que caía.
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