LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
Ivo Aparecido Franco São Bernardo do Campo/SP
Palavras
Quando as palavras cavalgam no vento Formam sinuosos rios aéreos Seus movimentos
O bicho estacou decidido Em algum lugar daquele ser humano E não queria sair nunca mais
As palavras, como a água Têm seus ciclos
E pensar que do lugar de onde Surgiu o burrinho Podia muito bem ter nascido uma águia Que certamente teria levado aquela criança A altíssimos e libertários voos!
Quando gasosas espalham-se Graciosas, por lugares sem nome Mantendo viva a fauna e flora dos homens Quando finalmente vertem Por xilemas e floemas invisíveis, Solidificam-se!
Depois, é muito difícil eliminá-las de dentro de nós E a falta delas também mata de fome E de sede
Uma vez dentro do corpo Viram gelo Viram pedras Viram rochas
Por isso temos de ter cuidado com Cada palavra que bebemos Ou que nos dão para comer
As palavras aderem ao corpo Como endoesqueleto: A certa altura não sabemos Quem é palavra Quem é sujeito
E vejam só meus amigos, quem diria: Eu e um velho especialista em ideias Trombamos um sujeito muito doente Curioso, dirigi-me ao outro:
Extirpa-las geralmente dói muito Principalmente quando não correspondem Ao que somos Certa vez, lembro que foi angustiante extrair Um "burro" duma criança
-O que ele tem doutor? Balançando a cabeça o fulano respondeu: - Esse aí, caro amigo, feito tantos outros, sofre de palavras!
81