LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
sorriu-se. — Como dizia a publicidade:
atenção a atividade do pintor — eu —
“Se
quem
que o pinta. Este loop provoca uma
gostará?” Repare, não estou a fazer
quase vivência do quadro, mesmo
mais do que um Durer. Já viu aqueles
não
extraordinários autorretratos em que ele
muito naturalista.
eu
não
gostar
de
mim,
estando
pintado
de
maneira
se afirma não só belo e próspero, como
Carina experienciava um misto de
um virtuoso da pintura? E os mais de
deslumbramento pelo brilho teórico
cem
grande
de Delvaux, com um mal-estar que
psicológicas
radicava na maneira de ele ver o
que o pintor faz de si próprio, tal como
mundo, e que começava a assustá-la.
autorretratos
Rembrandt? as
fará
São
Van
do
leituras
Gogh
mais
tarde.
A
—
Deixe-me
falar-lhe
de
subjetividade acrescenta-se às outras
Velásquez — prosseguiu o crítico de
vertentes da pintura.
Arte. — Alguma vez se apercebeu da
O
entusiasmo
tomara
conta
do
maneira ardilosa que ele usou para
discurso de Delvaux, que agora dava
pintar
uma aula privada e emocionada à jovem
autorretrato
admiradora.
íntima da corte. Mas quem sobressai
Ele
próprio
tinha
consciência de que a admiração que provocava nela era o seu alimento.
As
meninas?
Aquilo é
disfarçado
de
um cena
mais do que as infantas? Ah, pois é! Carina já não aguentava. Pediu
— Um artista é uma espécie de
desculpa por ter de se retirar: «mas
instrumento do divino. Ao capturar-se a
tenho de regressar ao escritório».
si próprio em momentos de criação está
Desceu
perto de captar o processo divino. Veja
rapidamente,
este — mostrava-se a mirar-se de meio
surpreendido e magoado, a chamava.
lado, em tronco nu. — É a imagem de
Mas só um vago eco lhe respondia.
as
escadas
alguém — eu — que observa com toda a
http://vislumbresdamusa.blogspot.pt/
92
enquanto
do
prédio Delvaux,