LiteraLivre Vl. 5 - nº 26 – Mar./Abr. de 2021
Joedyr Goçalves Bellas São Gonçalo/RJ
Um Dia Como Outro Qualquer A luz acesa. Tenho alguns anos e não me canso de olhar pela janela. A cidade está calma, com jeito de segunda-feira, jeito de fossa, de curar a ressaca, de esquecer o amor que um dia acabou de me esquecer. Não me importo. Os amores são assim mesmo. Vêm e vão. Parece porta de saloon, do velho oeste, onde se bebia uísque sem gelo e na marra. As portas que não paravam de se movimentar, não se contentavam em ficar fechadas ou abertas, as dançarinas dançando mostravam as pernas e eu olho a cidade daqui de cima. Já pensei em me atirar daqui. Me tirem daqui, não me deixem aqui sozinho, não é que eu tenha medo da solidão, mas às vezes a solidão precisa de um par para bailar, não basta uma dose de uísque ou um cigarro nos lábios, precisa-se de um corpo, como aquela placa na obra, precisa-se de empregados. Eu não preciso de nada. As pessoas vão passando calmamente, não consigo distinguir nenhum rosto, nenhuma forma, a vista já está precisada de óculos, mas os óculos embaçam a minha vista e, de qualquer maneira, eu não consigo enxergar nada mesmo. Ontem, eu entrei numa rua e esta rua se chamava Rua Esquerda. Achei engraçado o nome, mas não ri, não disse nada, nem fiz pouco caso do nome. Todas as ruas, como as pessoas, precisam de um nome, de uma identidade, meu
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