A ÓPERA DO ATRASO, UM APELO À RAZÃO HISTÓRICA Giovanni Alves* Il vino si fa con l'uva Ditado italiano A classe dominante brasileira de extração colonial-escravista tem um compromisso histórico com a Razão Cínica, produto de um país capitalista dependente e de industrialização hipertardia, incapaz de produzir uma burguesia ilustrada é comprometida com os valores democrático-liberais da era de ascensão histórica do capital. Nossa burguesia nasceu da sociedade agrária conservadora, escravocrata é dependente dos circuitos financeiros internacionais. Nunca se comprometeu a ter um Projeto de Nação que representasse o bem-estar social do povo brasileiro e o respeito aos direitos de cidadania, direitos trabalhistas, previdenciários e sociais. A Razão Cínica da oligarquia brasileira impregnou as camadas médias e a sociedade brasileira, intoxicando-as com a perda da memória histórica e a obsessão na preservação de interesses particularistas contra o povo. Para isso, o povo é a grande ameaça á aqueles que concentram suas mãos a riqueza, o poder e o prestígio social. Contra a Razão histórica impôs-se a Razão Cínica dos poderosos da oligarquia dominante. Tudo que “cheira a povo” e representa seus interesses históricos deve ser condenado é perseguido. Existe um ethos oligárquico que representa a Razão Cínica que perpassa a classe dominante e as camadas sociais que lhe apoiam. O Brasil foi precoce em exercitar a modernidade senil. Vivemos em tempos de urgência histórica onde mais uma a Razão Cínica permeia discursos e sentenças em nome de valores hipocritamente reivindicadas por aqueles que historicamente estão comprometidos com o poder oligárquico há séculos. Mas o Futuro nos julgará. Contra a vigência da Razão Cínica que permeia os discursos do Poder que tomou de assalto a República brasileira em 2016 só nos resta fazer um apelo à Razão histórica, a lucidez comprometida com os valores da civilização contra a barbáries social que nos condena. Disse o filósofo: “O tempo histórico é o Senhor da Razão”. Portanto, nada como resgatar a memória histórica de uma saga da oligarquia brasileira: o combate ao PT e a sua liderança popular: Lula. Não pelo o que o PT e Lula efetivamente são - elementos da ordem burguesa no Brasil, mas pelo que representam: o sonho do povo brasileiro por uma Nação menos desigual e mais justa. É isto que o Poder oligárquico quer condenar. Eles sabem e mesmo assim o fazem.
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Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da RET (Rede de Estudos do Trabalho) – www.estudosdotrabalho.org ; e do Projeto Tela Crítica/CineTrabalho (www.telacritica.org).. É autor de vários livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais “O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial, 2000)”, “Trabalho e subjetividade: O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Boitempo Editorial, 2011), “Dimensões da Precarização do trabalho” (Ed. Praxis, 2013), “Trabalho e neodesenvolvimentismo” (Ed. Praxis, 2014) e “Labirintos do labor” (Ed. Praxis, 2017, no prelo). E-mail: giovanni.alves@uol.com.br. Home-page: www.giovannialves.org COMENTÁRIOS A UMA SENTENÇA ANUNCIADA: O PROCESO LULA 160