COMENTARIOS A UMA SENTENÇA ANUNCIADA: O PROCESSO LULA

Page 385

SENTENÇA CONTRA LULA VIOLA A IGUALDADE DE ARMAS PROCESSUAL Ricardo Franco Pinto* A destruição de princípios basilares de Direito, mais especificamente de Direito Penal é muito mais fácil do que se poderia imaginar. Geralmente, uma única Sentença detém tal poder de destruição, sempre e quando a mesma conte com o apoio do conjunto midiático a serviço do poder dominante. Como no caso em que aqui trataremos (a sentença condenatória de Lula) e em muitas outras conhecidas no transcurso da história (Mandela poderia ser o exemplo mais claro), não importa, a rigor, o conteúdo da sentença, mas a quem se quer condenar. Assim, algumas sentenças funcionam apenas como uma espécie de “pano de fundo” para o que realmente está em jogo, que é a decisão política sobre o destino de um país e a implantação, no caso do Brasil, de medidas ultraliberais como ocorre efetivamente há pouco mais de um ano. Com a promulgação da Constituição de 1988, ao menos dois destes princípios basilares estariam garantidos: o primeiro, a separação de poderes; o segundo, a igualdade de armas em um processo judicial. O primeiro princípio, de separação de poderes, se garantiria delimitando-os em três (em uma evolução política do que pregava Benjamin Constant, que entendia que havia cinco poderes406), tal e como já se adotava na primeira república, com inspiração na interpretação de Montesquieu. No corpo da Constituição de 1988 encontramos a divisão de poderes (executivo, legislativo e judiciário) delimitadas principalmente em dois artigos: o art. 2º, que estabelece que “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”; e o art. 60, §4º, que atua como norma protetora do artigo anterior, ao estabelecer que “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) III - a separação dos Poderes”. A importância deste princípio reside na não interferência (ou influência) política de um poder em outro pois isto colocaria em risco o sistema democrático. Entendemos que este princípio foi e será tratado em outros lugares, e não nos ocuparemos diretamente do mesmo neste artigo. O segundo princípio, que buscaremos analisar com um pouco mais de exatidão, é o princípio da igualdade de armas407. É igualmente reconhecido pela Constituição Brasileira naquele que seja possivelmente o mais famoso artigo da Carta Magna (art. 5º), que estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Evidentemente todos os que trabalhamos com o Direito Penal sabemos que *

Professor Visitante da Universidad Pablo de Olavide (Sevilla - Espanha). Advogado junto ao Tribunal Penal Internacional (Haia – Holanda). Doutor Internacional pela Universidad de León (León - Espanha), e especialista em Direito e Política Internacional, nas áreas de Terrorismo, Terrorismo de Estado e Direitos Humanos. 406 Para Constant, os poderes eram: Real, Executivo, Representativo Duradouro (assembleia hereditária), Representativo de Opinião (assembleia eletiva) e o Judiciário. 407 Também denominado “paridade de armas”.

385 COMENTÁRIOS A UMA SENTENÇA ANUNCIADA: O PROCESO LULA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

MORO E A MORTE DO DIREITO

2min
pages 464-465

PREVALÊNCIA DAS CONVICÇÕES NA CONDENAÇÃO DE LULA

7min
pages 456-458

A JUSTIÇA PRIVATIZADA

10min
pages 474-477

SOBRE A DOSIMETRIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

12min
pages 459-463

CONDENAÇÃO POR IMÓVEL: SEM POSSE E SEM DOMÍNIO

8min
pages 466-469

O JUÍZO DE CURITIBA E O DESAMOR DA RIGOROSIDADE PROCESSUAL: PRESUNÇÕES, CONFUSÕES, ILAÇÕES E FALÁCIAS

11min
pages 478-484

MATADA

9min
pages 470-473

A SENTENÇA CONDENATÓRIA DO PRESIDENTE LULA COMO UMA AFRONTA AO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

11min
pages 451-455

A SENTENÇA DE MORO: “XEQUE MATE” E CHEQUE SEM FUNDOS

4min
pages 449-450

A CONDENAÇÃO DE LULA POR SÉRGIO MORO NA VISÃO DE UM ADMINISTRATIVISTA

8min
pages 445-448

“DELATOR INFORMAL”: O CASO LÉO PINHEIRO E O VALE TUDO PARA CONDENAR LULA

9min
pages 441-444

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A SENTENÇA DE CONDENAÇÃO DO LULA

7min
pages 436-438

ELES, OS JUÍZES, VISTOS POR UM PROFESSOR

17min
pages 425-430

KAFKA É FICHINHA

3min
pages 439-440

A SENTENÇA CRIMINAL E AS TEORIAS AGNÓSTICAS

5min
pages 433-435

A SENTENÇA DE MORO É UM ESPECTRO QUE AMEAÇA O PODER JUDICIÁRIO

3min
pages 431-432

FOGUEIRAS DE JULHO

9min
pages 417-420

PODER PUNITIVO E O DISCURSO MANIFESTO DO CASTIGO: UMA DECISÃO VERTICAL DE PODER

8min
pages 421-424

NADA SOBROU DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. A SENTENÇA É NULA

10min
pages 412-416

INADEQUADA É A CONDUTA DO JUIZ

10min
pages 403-406

O “CASO TRIPLEX” E O DIREITO PENAL DO ABSURDO

9min
pages 393-396

A CONDENAÇÃO DE LULA: O MAIOR CASO DE LAWFARE DO BRASIL

10min
pages 389-392

O DEVIDO PROCESSO ENTRE A JUSTIÇA E A POLÍTICA

15min
pages 397-402

BREVÍSSIMA ANÁLISE DE UMA DECISÃO JUDICIAL À LUZ DO PRINCÍPIO “IN DUBIO PRO REO”

11min
pages 407-411

LULA, POLÍTICA E CORRUPÇÃO: AS MAZELAS DA TÉCNICA

11min
pages 380-384

SENTENÇA CONTRA LULA VIOLA A IGUALDADE DE ARMAS PROCESSUAL

9min
pages 385-388

DA VIOLAÇÃO DO ACUSATÓRIO AOS ABUSOS PROCESSUAIS E MORAIS: QUANDO O INDEVIDO PROCESSO LEGAL ENCONTRA A CRENÇA MESSIÂNICA

13min
pages 375-379

A SENTENÇA DE LULA COMO MEDIDA DE EXCEÇÃO

6min
pages 366-368

USO E ABUSO DA CONDUÇÃO COERCITIVA

6min
pages 358-360

A INCONSTITUCIONALIDADE DO PROCESSO QUE CONDENA À PRISÃO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA E O BRASIL

14min
pages 369-374

UM JUIZ ACIMA DA LEI

3min
pages 364-365

ATIVISMO JUDICIAL NA SENTENÇA DE LULA

5min
pages 361-363

SOCORRA-NOS, MONTESQUIEU

6min
pages 355-357

A CONDENAÇÃO DE LULA: UMA PROMESSA CUMPRIDA

7min
pages 352-354

“QUID PRO QUO” SEM “QUID” BREVE ANÁLISE DE UMA SENTENÇA “SUI GENERIS”

34min
pages 336-348

O PREVISTO JULGAMENTO DE LULA

10min
pages 332-335

DELAÇÃO PREMIADA VERSUS DIREITO AO SILÊNCIO. QUEM GANHA NA SENTENÇA?

7min
pages 349-351

CASO LULA: UN PAÍS AL MARGEN DE LA LEY

5min
pages 330-331

QUEM ESTÁ ACIMA DA LEI?

6min
pages 327-329

VIOLÊNCIA E ESPETÁCULO NA DECISÃO CONTRA O PRESIDENTE LULA

8min
pages 323-326

A SENTENÇA CONDENATÓRIA DE LUIZ INÁCIO DA SILVA E A ARGUMENTAÇÃO NEGATIVA DO ESTADO CONSTITUCIONAL

9min
pages 319-322

ENTRE A LEGITIMIDADE E A VIOLÊNCIA: A PROPÓSITO DA PRIMEIRA CONDENAÇÃO CRIMINAL DE LULA

11min
pages 315-318

O CAPITÃO DO MATO E O POMBO-CORREIO

3min
pages 313-314

OBJETO MATERIAL INEXISTENTE E AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO DE ATO PESSOAL PRATICADO PELO CONDENADO

3min
pages 306-307

A INOBSERVÂNCIA DO PRINCIPIO DA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS NA SENTENÇA CONDENATÓRIA DO EX-PRESIDENTE LULA NA REPÚBLICA DE CURITIBA

11min
pages 295-299

JURISPRUDÊNCIA SENTIMENTAL E MEDIEVAL: CONDENAÇÃO COM BASE EM SUSPEIÇÃO E NA ANIMOSIDADE AO “INIMIGO DA SOCIEDADE”

14min
pages 300-305

LAWFARE, ESSE CRIME CHAMADO JUSTIÇA

10min
pages 308-312

O SUPEREU A SER SUPERADO

21min
pages 286-294

VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA: ALTERAÇÃO DA IMPUTAÇÃO E NULIDADE DA SENTENÇA CONDENATÓRIA DE LULA

9min
pages 282-285

DA INCOMPETÊNCIA DE UM JUIZ SUSPEITO

10min
pages 277-281

ESTADO DE DIREITO, CRISE POLÍTCA E OPERAÇÃO LAVA JATO

16min
pages 266-271

DA PUBLICIDADE, DA NULIDADE E DO CONTROLE DAS DECISÕES JUDICIAIS, QUEM ESTÁ ACIMA DA LEI?

10min
pages 272-276

SENTENÇA DE MORO É A PROVA DE QUE A LIVRE APRECIAÇÃO DA PROVA DEVE ACABAR

21min
pages 258-265

LULA, O INIMIGO A SER COMBATIDO

8min
pages 254-257

CAPTURA DA SOBERANIA POPULAR, ESTADO DE EXCEÇÃO E JURIDICINISMO

12min
pages 249-253

O CRIME DE CORRUPÇÃO PASSIVA NA VISÃO DO STF E A SENTENÇA QUE VIOLA O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

42min
pages 232-248

DELAÇÃO, NOTÍCIA DE JORNAL, CONDENAÇÃO: ELEMENTAR, MEU CARO WATSON

6min
pages 223-227

A DOSIMETRIA DA PENA APLICADA A LULA: ANÁLISE À LUZ DA CONSTITUIÇÃO E DA CIÊNCIA PENAL MODERNA

38min
pages 204-218

VIVENDO O DIREITO

8min
pages 219-222

A SENTENÇA ILEGAL DO JUIZ MORO CONTRA LULA

10min
pages 228-231

PARCIALIDADE E FETICHE: FREUD EXPLICA

17min
pages 198-203

O MALABARISMO JUDICIAL E O FIM DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

13min
pages 184-189

A INCOMPETÊNCIA DA 13ª VARA FEDERAL DE CURITIBA PARA JULGAR O “CASO DO TRIPLEX”

19min
pages 190-197

MORO, LULA E O TRIPLEX: NOTAS SOBRE UM JULGAMENTO

8min
pages 180-183

A CRIMINALIZAÇÃO DA AMPLA DEFESA

8min
pages 176-179

SENTENÇA DE LULA E LAVA JATO À LUZ DO DIREITO INQUISITORIAL NO BRASIL NO SÉCULO XVIII

9min
pages 172-175

CONSTITUIÇÃO ÀS FAVAS, O AUTORITARISMO TOGADO CHEGOU: O CASO DE UMA SENTENÇA VICIADA

7min
pages 169-171

A ÓPERA DO ATRASO, UM APELO À RAZÃO HISTÓRICA

14min
pages 160-165

OS MÚLTIPLOS E PERVERSOS SIGNIFICADOS DA SENTENÇA DE SERGIO MORO

5min
pages 166-168

A TIRANIA TOGADA

9min
pages 152-155

A CRISE DAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS REFLETIDA NA CONDENAÇÃO DE UM EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA POR UM JUIZ SINGULAR

10min
pages 156-159

O DESRESPEITO AO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA E A RUPTURA DO PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE JUDICIAL

16min
pages 145-151

A CAÇADA DE LULA PELO PROCESSO PENAL DE EXCEÇÃO NA ERA DA PÓS-VERDADE

7min
pages 141-144

O “CASO LULA” E AS TENDÊNCIAS AUTORITÁRIAS DA JUSTIÇA BRASILEIRA: DIREITO, POLÍTICA E ADVOCACIA CRIMINAL

10min
pages 136-140

AS FUNÇÕES DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E DA CULPABILIDADE NO DIREITO BRASILEIRO E A SENTENÇA CONDENATÓRIA CONTRA O PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

11min
pages 131-135

A CONDENAÇÃO DE LULA MARCOU A TRANSIÇÃO DO ESTADO DE DIREITO PARA O ESTADO MIDIÁTICO PENAL E O NASCIMENTO DO “JUIZ AVESTRUZ”

9min
pages 107-110

BREVES APONTAMENTOS SOBRE A CONDENAÇÃO, EM PRIMEIRA INSTÂNCIA, DO EX-PRESIDENTE LULA, OU SOBRE A LUTA PARA QUE A JUSTIÇA PREVALEÇA ANTE AO ARBÍTRIO

11min
pages 123-127

UMA PRISÃO NADA CONVENIENTE

20min
pages 111-118

DO “DOMÍNIO DO FATO” A “PROPRIEDADE DE FATO”

9min
pages 119-122

QUID IAM AGUNT PUERI? POR QUE AGIRAM ASSIM, MENINOS?

6min
pages 128-130

GUERRA JURÍDICA (OU, SIMPLESMENTE, GUERRA

12min
pages 102-106

DIREITO PENAL DO INIMIGO (POLÍTICO

24min
pages 91-101

PRECES PARA THEMIS

10min
pages 87-90

O DEVIDO PROCESSO LEGAL EM RISCO NO BRASIL: A JURISPRUDÊNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NA ANÁLISE DA SENTENÇA CONDENATÓRIA DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA E OUTROS

13min
pages 77-82

NADA ALÉM DE FALÁCIAS: UMA ANÁLISE ARGUMENTATIVA DA SENTENÇA CONDENATÓRIA CONTRA O EX- PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

8min
pages 83-86

O JUIZ QUE ESCOLHEU O PROCESSO

11min
pages 72-76

O JUIZ, O COLABORADOR E AS LACUNAS DA NARRATIVA CONDENATÓRIA

9min
pages 65-68

POR QUE CONDENAR LULA?

9min
pages 69-71

CULPABILIDADE PELO CONTEXTO? DOS RISCOS DO ABANDONO DO DIREITO PENAL DO FATO

10min
pages 56-59

O QUE DO CINISMO JURÍDICO “VEM AO CASO”?

11min
pages 60-64

DO LEVANTAMENTO DO SIGILO DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS À PERDA DA IMPARCIALIDADE OBJETIVA

12min
pages 51-55

QUANDO O DEVIDO PROCESSO LEGAL NÃO É SEGUIDO, A DEMOCRACIA PERDE

8min
pages 47-50

QUANDO O INCONSCIENTE DO JUIZ SE REVELA NA SENTENÇA

14min
pages 24-29

O MITO SUPERMORO E O EFEITO KRYPTONITA DA CONSTITUIÇÃO

8min
pages 30-33

O DIREITO À DERIVA, O (IN)ESPERADO

9min
pages 43-46

ENTRE FATOS E CONVICÇÕES: ANÁLISE DA SENTENÇA DO JUIZ SÉRGIO MORO QUE CONDENA O EX-PRESIDENTE LULA

23min
pages 34-42

BREVE ANÁLISE DA SENTENÇA QUE CONDENOU O EX-PRESIDENTE LULA E OUTROS

8min
pages 17-20

FRENTE BRASIL DE JURISTAS PELA DEMOCRACIA EM DEFESA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

7min
pages 14-16

APRESENTAÇÃO

7min
pages 10-13

O EX-PRESIDENTE LULA É CONDENADO POR UM ÓRGÃO JURISDICIONAL INCOMPETENTE. EQUÍVOCOS EM RELAÇÃO À COMPETÊNCIA DO JUIZ SERGIO MORO NA CHAMADA OPERAÇÃO LAVA-JATO

7min
pages 21-23
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.