LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Mônica Monnerat Santos/SP
Além do Palco Distribuídas em camarins, as meninas bailarinas corriam para lá e para cá, ajeitando os “tutus”, retocando a maquiagem, protegendo os pés para calçar as sapatilhas de ponta e rindo algumas vezes, de nervoso. Assim acontecia também com o Corpo de Baile Juvenil da prestigiada escola, reconhecida não só pela exigência e rigor, como também pelo nível técnico de excelente qualidade. De longe, eu observava aquela cena, e ao mesmo tempo recordava-me de mim, quando as apresentações estavam próximas. E constatava até um pouco surpresa que a emoção de uma estreia permanecia a mesma, mesmo diante de uma geração tão acostumada aos avanços tecnológicos. Num certo momento, uma das meninas do grupo fez uma expressão de pânico: havia esquecido o arranjo de flores dos cabelos em casa. O choro e o desespero foram inevitáveis. As companheiras ainda tentaram revistar o camarim, torcendo por um possível engano. Nada encontraram. Não daria para ligar para a casa da bailarina, pois além de o festival ser em outra cidade, seus pais já estavam acomodados na plateia aguardando a apresentação. Seguiu-se um silêncio sepulcral. Só se ouvia a respiração ofegante das meninas. Poderia até imaginar seus pensamentos: “E agora, o que faremos?”, “É uma competição, vamos perder pontos...”, “E a professora, o que fará conosco?” Subitamente, uma das meninas, já com sua coroa de flores pronta para ser colocada, timidamente falou: — E se cada uma tirasse somente uma flor de seu arranjo? Talvez conseguíssemos montar o enfeite da Bia... A aceitação foi imediata. Bia, que agora já se mostrava um pouco mais calma, enxugou as lágrimas. Em menos de 15 minutos, os arames contorcidos deram forma e graça ao enfeite. E com a habilidade especial que só a emergência proporciona, os espaços dos arranjos originais foram devidamente preenchidos, redistribuindo-se a distância entre as pequeninas flores.
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