LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Paulo Luís Ferreira São Bernardo do Campo/SP
Pássaro sem Asas
Imagem:Google imagem
Deusdete desvia a vista do espelho para a parede. Mais uma vez está perplexo. Sua fisionomia denota uma dura expressão de desarranjo emocional num misto de decepção, abandono e impotência diante tanta falta de vontade e perspectiva. Náufrago de uma vida absurda, sem vento, sem lucros, da qual nunca pode fugir. É como se estivesse
140
num hospício ou numa clausura. Fala com o invisível. Deusdete continua olhando sua opaca imagem refletida. Ensimesmado, relembra de uma frase que alguém lhe disse, ouvida ou simplesmente lida: “Após o advento do espelho cada um é responsável pela cara que tem”. De seu hipocondríaco espírito brotou um