LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Pedro R. R. Guimarães Pelotas/RS
Pedaço de Pão O
seu
olhar
e
pairava em sua cabeça, porque em
totalmente sem expressão. Os braços
seu entendimento, não havia mais
caídos
postura
nada a fazer. E a sua fé? Na sua
curvada, como se em seus ombros
educação sempre houve lugar para a
houvesse sacos de areia. Estava sentado
espiritualidade.
na
admirava
ao
beira
era
lado
do
vago,
do
cais.
parado
corpo,
A
sua
frente
à
por
Os
santos
dedicação,
que
amor
e
imensidão do mar em uma tonalidade
abnegação a uma vida totalmente
azul-escuro
voltada
que
aumentava
sua
para
a
religião,
naquele
grandeza e ao mesmo tempo, provocava
momento, também não o ajudavam,
medo. Para ele tudo estava perdido. Não
não o comoviam e não provocavam a
havia salvação de nada.
esperança em seu coração e na sua
Muito menos
esperança. Nem mesmo a lembrança de
mente.
seus pais era motivo para reanimá-lo.
A “derrubada” aconteceu pela manhã.
Como
Levantou cedo, como de costume e
eles
pensariam
se dele?
sentiriam? Sua
mãe
O
que
ainda
o
foi fazendo a sua rotina. Cortou a
olharia com amor e carinho, com toda
barba, tomou banho. Após o café,
aquela ternura que lhe era peculiar? E
sentou-se para ver televisão e ler o
sua mulher e os dois filhos? Como eles
jornal. Foi ali naquele momento. Só
ficariam? Sempre foi muito admirado
noticias ruins. Mortes, assassinatos,
por eles, o que restaria? Será que o
guerra,
entenderiam? Ficariam bem? Mas nada
desfalques, corrupção e a economia
que pensasse parecia ter o poder de
de mal a pior. Começou a sentir um
fazê-lo mudar de ideia.
aperto no peito, que parecia uma
Ele estava decidido a se jogar no mar.
falta de ar, mas não era, e por dentro
Por fim na sua vida, era só isso que
era como se houvesse uma corrosão
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refugiados,
roubos,