LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Regina Alonso Santos/SP
Sem perdão A coceira começava no ardor da
Em qualquer lugar o desejo se
tarde. A mãe vigiava, Menina, vá se
manifestava. A ardência era forte no
lavar com água, sabão... e vinagre. A
quintal,
avó fazia o sinal da cruz e emendava, E
consumido
troque a roupa de baixo.
movimento das sombras de pessoas
O susto maior foi na primeira
quando de
via
o
sol.
arvoredo
Na
sala,
o
desconhecidas e o brilho dos cristais
comunhão. Quando sentiu o olhar do
retalhavam
padre, ao colocar a hóstia na sua boca,
intocadas.
seu
corpo
nas
partes
a pequena escutou ecoar na igreja, Você
Na festa de casamento da filha
não é digna de receber a eucaristia! O
da vizinha, o bolo de vários andares
sacerdote era Deus, o Cordeiro Imolado,
exibia
tinha aprendido durante o catecismo, a
brancos
duras penas... até sangrar, ajoelhada
noivos
nos pedregulhos do jardim da igreja. As
sentados entre a mãe e sogra, que
lembranças eram um tormento sem fim,
vigiavam sem disfarçar. Percebendo a
aumentando
adolescência,
cinta apertando o bucho cheio da
quando as amigas começaram a se
noiva, a menina-moça perguntava, O
afastar.
que podia de pior acontecer? Com a
na
Teimosa feito mula demorava a se convencer
dos
especialmente
conselhos quando
a
da
mãe,
genitora
cara
no
alto,
aos se
suja
dois
beijos,
olhavam
de
glacê
pombinhos
enquanto
os
constrangidos,
do
bolo,
a
molecada ria, apontando o barrigão e tomando cascudo.
recomendou, Filha, perdão a gente tem
De volta a casa, a mãe jogou
que pedir! Diante da própria imagem
longe o sapato de bico fino, o pai
refletida no espelho do quarto, ela se
tirou a gravata e desatou a falar
perguntava, Perdão de que, minha mãe?
encarando a jovem bem no fundo dos
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