LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Sabrina Siqueira Santa Maria/RS
O brechó da Rio Branco O fato de a minha mãe ser filha temporona fez com que eu tivesse tios bem mais velhos. Com dois deles, convivi bastante e guardo boas memórias. Uma é a tia Lira, a primeira ghostwriter da família, já que escrevia os discursos do marido vereador e ficava no anonimato. Eu a acompanhei em alguns apontamentos de jogo do bicho e entendi depressa a importância de um almanaque de interpretação dos sonhos nesse métier, já que o apontador é antes de tudo um terapeuta dos mistérios do inconsciente. Outro, o tio Ivan, foi quem escolheu o meu nome, que eu adoro. Meus pais adolescentes não recorreram à ciência para saber o sexo do bebê, até porque acho que não existia exame para isso em 1979. O que não significa que não tenham usado de alguma astúcia para antecipar a surpresa da natureza.
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Morávamos em São Sepé e, em cidade muito pequena, naquela época, cartomante era como circo, vira e mexe chegava uma. O jovem casal visitou a vidente separadamente e ambos escutaram dela que teriam um filho homem, algum dia. Pronto! Nasci Fabrício e com muitas roupas azuis. Mas num instante as crianças que se tornaram pais de primeira viagem solucionaram o problema renomeando a recémnascida como a protagonista de seu gibi favorito: Mônica. O tio Ivan, na primeira visita à afilhada, ainda no hospital, teve um insight da baixinha enfezada que eu seria e me salvou de um destino caricato, sugerindo Sabrina. Esse nome ele tirou de alguma fotonovela da moda, mas eu gosto de contar a história com o verniz de que a inspiração teria sido o