LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Teresa Azevedo Campinas/SP
O reencontro Naquela tarde eu saíra apressada para comprar algumas coisas no mercado mais próximo, pois em menos de uma hora receberia alguns amigos em casa. Eram dois casais, mas na verdade das quatro pessoas eu conhecia apenas três. Douglas e Anita foram meus padrinhos de casamento e Carla era minha amiga de infância, ela havia perdido o marido há dois anos quando moravam na Inglaterra, voltou para o Brasil recentemente e havia conhecido alguém que iria nos apresentar hoje. Voltei para casa e guardava as compras quando o telefone tocou, era Michel, meu marido avisando que se atrasaria um pouco porque o trânsito estava parado.
Ele,
sempre
tão
atencioso
com
todos,
estava
aborrecido,
pois
provavelmente não estaria em casa quando nossos convidados chegassem. Retoquei a maquiagem, recompus-me para recebê-los e me sentei na sala, enquanto os aguardava comecei a ler um novo livro. Eu mal havia terminado a primeira página quando a campainha tocou. Olhei na câmera e era Carla, quando abri a porta ela entrou apressada dizendo que precisaria usar o banheiro. Carla sempre passou apuros com sua bexiga hiperativa. Eu sorri e perguntei onde estava seu pretendente e ela, falando alto pelo caminho, disse que ele estava estacionando o carro, mal acabou de falar e quando eu me virei para aguardá-lo ele vinha caminhando cabisbaixo, com passos diminutos. Quando chegou mais perto, dei uma boa olhada nele como nós mulheres fazemos quando, curiosas, queremos avaliar se o pretendente de uma amiga está a sua altura. Apesar de ser noite, a forte luz do jardim me permitiu perceber que usava uma roupa sóbria, tinha os cabelos brancos, o rosto enrugado,
os
olhos
pequenos,
suas
mãos
eram
trêmulas,
enrugadas
e
manchadas e ele se apoiava com uma bengala. Carla havia dito que ele tinha passado por uma cirurgia no joelho recentemente, a postura encurvada rumo à
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