LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Ariel Von Ocker (Gabriel F. Montes Lima)
A Imitação da Mulher e a Rosa de Clarice LISPECTOR, Clarice. A Imitação da Rosa. In: Blog Clarice Lispector. Disponível em:
https://claricelispector.blogspot.com/2008/07/imitao-da-rosa.html?m=1.
2008. Acesso em 04 de Jan de 2022.
Nascida Chaya Pinkhasivna Lispector em 10 de dezembro de 1920 e naturalizada brasileira, a insigne escritora Clarice Lispector (1920-1977) é dona de um amplo repertório literário. Sua escrita é marcada por uma narrativa fluida, que busca predominantemente apreender o sentimento provocado pelo objeto do que o objeto que o provocou. Sua literatura trouxe à tona, como dizia Antônio Cândido, o conceito de epifania à produção poética brasileira, bem como a possibilidade de se construir uma narrativa que quase não contemple os fatos, mas somente a impressão do fato. Em A Imitação da Rosa, conto agrupado originalmente no livro Laços de Família, o modo de criação clariceano se revela de maneira criativa e profunda. O enredo aparentemente simples sonda a vivência de uma feminilidade tímida e ousada, cuja ânsia por florescer (como uma rosa) deságua em um senso de desesperança e enlevo perante a vida. A trama se desenvolve quase em um monólogo interno feito pela
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protagonista Laura. É depreendido que ela estivera internada em um sanatório recentemente. Isso a move em um sentimento contínuo de reflexão. Tal sentimento é alimentado pela normalidade contínua e repetitiva de sua vida cotidiana ao lado do marido Armando. O conflito principia com Laura observando um ramalhete de rosas. A mulher deseja, então, leva-las para presentear Carlota, sua amiga e esposa de João. Aqui, se deve observar que tais personagens são apresentados no conto pela ótica da protagonista e algo em seus prenomes lhes confere um aspecto de absoluta igualdade, como se ali pudessem haver inúmeras Carlota e inúmeros João. Entrementes, Laura entra em conflito com o desejo pelas rosas e o compromisso que firmara de dá-las de presente. Há, por um lado, uma ânsia, um frêmito inominado de ter para si algo belo somente para tê-lo. Isso é um conflito psicanalítico, me