LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Benjamim Franco Taubaté/SP
Código de Coação Dormia quando chegaram. Não se deram ao trabalho do silêncio: pelo que
nem imaginava que horas eram. Só que sentiria saudades do sol.
pude perceber, e isso só depois, o
O oficial arrastou a cadeira de
esquadrão arrombou a porta da frente
minha escrivaninha. — Mande uma
da pensão, e marchou até meu quarto.
mensagem para seu quartel-general
A dona não ousou reclamar; mas foi
— Sentei, e o outro guarda, ainda
jogada ao chão, quebrando a bacia
mais claro, com o rosto cheio de
mesmo assim.
cicatrizes de acne, retirou a capa de
Acordei num susto só, procurando o
máquina de costura que escondia, de
revólver por puro treino: não daria nem
forma inadequada, devo admitir, um
pra atirar na minha própria cabeça. Já
aparelho radiotransmissor.
estavam no quarto. O chefe, um oficial
— Lilás, aqui é Mangue. Câmbio.
cheinho, de olhos apertados, repousava
A transmissão nunca fora tão
a mão em sua pistola, ainda no coldre. — Mostre-nos o rádio — ele disse, num
inglês
castiço,
sem
sinal
algum
de
sotaque. Ergui
— Lilás na escuta. Câmbio.
Todo o meu treinamento veio à mente. Tudo que eu teria que fazer se
as
mãos,
e
um
de
seus
capangas, um loirão com cara de bobo, que não devia ter idade pra beber, me puxou até o chão, e depois me pôs de pé. Caminhei até o rádio, pensando em nossa
clara. Mau sinal.
causa,
lembrando
de
meu
treinamento. Olhei pra janela fechada:
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fosse capturado. Além de aguentar o máximo
de
tempo
possível,
de
estratégias para fechar o corpo e preservar a mente, haviam também palavras,
de
pouco
ou
nenhum
sentido, mas de utilidade prática: uma delas era – tinha que ser! – o