LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Cleidirene Rosa Machado Catalão/GO
Somos Todos Selvagens! Eu era uma criança ainda. Frequentava a escola todos os dias. Minha professora de ensino fundamental era bastante rígida com os assuntos docentes, porém, tirando isso, ela era uma pessoa doce e que sempre ia em defesa daqueles que necessitassem. E eu sempre tive meus momentos de necessidade. Quando eu chegava em casa, minha avó vinha abrir o portão e eu ia passando para dentro, sempre com muito medo. Cães enormes e ferozes estavam ali, eles rosnavam alto, salivavam com raiva quando me viam e parece que sentiam o meu medo vindo de longe. Eu sempre imaginava que eles iriam arrebentar as correntes e me atacar com força e sem nenhum remorso. Todos os dias eram assim. Aqueles animais pareciam nunca se acostumar com meu cheiro. Com meu olhar e com minha carne magra. Eles nunca me aceitariam como amiga. Eu só queria passar a mão na cabeça deles, afagar as orelhas, deitar eles no chão de barriga para cima para mostrar que eu poderia acalentar e até abraçar aqueles cães furiosos como se fossem bons cachorros. Eu nunca desanimei de meus dias e minha avó sempre pareceu me
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incentivar a correr o risco, porque era um risco seguro. Era eu, os cachorros e suas fortes correntes. Havia dias na escola que nós alunos, todos nós, entravamos no ônibus da prefeitura, esses eram dias de fazer visitas a lugares diferentes e as vezes, a povos diferentes. Diferentes de mim? Será mesmo que isso era verdade? Eu subia os degraus daqueles ônibus e me sentava em um dos bancos junto ao meio de tudo, nem na frente, nem atrás, mas, ao meio. Eu praticamente não saia de casa, sempre ali olhando para os cães ou para os outros animais que estavam junto a mim. Cavalos, coelhos, porcos, pássaros, etc... Me lembro até mesmo de um filhote de onça com os olhos lacrimejando friamente e olhando pra mim. Era a minha casa, meu lar. Então quando a escola dizia que iriamos fazer um passeio eu ficava eufórica. Naquela tarde, nós iriamos conhecer um lugar especial, pessoas especiais. O ônibus começou a andar. Na hora, eu imaginei que fosse um lugar longe dali, mas, hoje, depois de muitos anos, descobri que era um lugar bem perto do Colégio Estadual