LiteraLivre Vl. 6 - nº 33 – Mai./Jun de 2022
Joaquim Bispo Odivelas, Portugal
A angústia do dirigente na iminência do embate — Estou ansioso, Lampreia!; achas que vamos conseguir mostrar um bom jogo no domingo? — Presidente, estou convencido de que vai ser dos melhores da temporada. — Ah, ótimo! Adoro desfrutar de uma partida de futebol, no seu conceito mais puro: o embate vigoroso entre duas equipas de garbosos mancebos, virtuosos no tratamento de uma bola com os pés, envolvidos numa sã competição inspirada no lazer varonil, e comandados por duas mentes altamente estratégicas que analisam ao pormenor as forças e as fraquezas da equipa adversária. — Felizmente, nisso, somos dos melhores. — O adversário é difícil, hem!? — Muito difícil! Tive de chegar aos oitenta mil. — Então, quer dizer que estamos com força anímica para vencer! — Com tendência para 3–1. É o que está combinado. — 1? — Presidente, fica sempre bem um golo de honra, para abrilhantar a nossa vitória. — Mas, atenção; a forma física deles parece estar em alta. — Sim, mas a preparação física de véspera vai incluir uma jantarada bem
89
regada. Só para alegrar um pouco a noite. — Jantarada é uma boa solução. E os nossos, estão motivados? — Muito! Já lhes lembrei que a claque ficaria muito aborrecida se eles não se esforçassem. — Ah, pois ficaria! E não é para brincadeiras… — Para nenhum se esquecer disso, já marquei uma conferência de balneário para a próxima sexta. — Conferência de balneário parece-me bem. E os árbitros? — O costume: nevadas ou bombons, conforme os gostos. Nevadas russas e chocolatinhos de Cabo-Verde. — Não há nenhum com gostos menos exóticos? — Um preferiu uma digestão em Ibiza. — Muito bem, Lampreia! Gosto de ver tudo bem encaminhado, mas, sabes, às vezes, temo que este desporto transmita, aos mais novos, uma imagem de competição desregrada; que se perguntem onde fica o desporto pelo desporto, o prazer do esforço físico, o ideal de que o importante não é a vitória, mas sim a participação.