LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Joalison Silva Solânea/PB
Dia de Vacina
Saiu de casa cedo. Cinco horas, o sol
lado da rua onde tinha espaço de
ainda dormindo. Deduzia: porque assim
sobra.
acaba mais rápido. Chegou no posto de
Encostado na casa, questionou se
saúde minutos depois, pegou uma ficha
valia a pena. A vida vale a pena? Um
e, estava só e o tédio consome o
homem
solitário,
passou
a
observar
Corsa, não era o do casal, apesar de
chegava.
Muitos
já
chegados,
quem uma
Foi
seguido
pelo
resto.
parou de moto atrás
igualmente
cinza,
pintura
do
padrão
mulher alta, bonita, rosto oculto pela
talvez, o azul era símbolo de rebeldia,
máscara, e era bonita de verdade, ficou
e o homem vestido de trabalhador
nela, ignorou o resto até um casal num
entrou para pegar a ficha, errou o
Corsa
caminho e entrou na sala visada, o
cinza,
todos
os
Corsas
eram
cinzas? Não, uma vez viu azul. O casal
local
parou perto, bem ao lado na calçada,
embora.
saíram
carro.
algodão no ombro: os trabalhadores
Moveu-se, de pé há horas, lembrou, as
tinham prioridade? São privilegiados,
pernas doíam de ver o casal encostado,
precisam retornar ao posto, ganhar
voltou a fitar a mulher alta e bonita, a
dinheiro,
mais alta, dúvida se a mais bonita
privilegiados. Um princípio de revolta
também, cabelos pretos e que corpo,
pulsou dentro dele, forte como a
um mulherão! Outros mais chegaram.
vontade. Ouviu um murmúrio contido
Começou a chover, acuando um grupo
na entrada do posto. A revolta ligeira
acumulado de vontade: vontade de ir
se espalhava. As fichas seguiam nas
embora. Uns entraram no posto de
mãos, seus números ainda nas bocas.
saúde, aglomeração. Foi para o outro
Outra vez, apareceu trabalhador. Uma
e
se
encostaram
no
123
de
desejo. Voltou
o
Vontade
com
um
privilégio
de
ir
tufo
de
dos