LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Juliana Moroni Ibaté/SP
Consumida pela Existência Entrou no corredor apressada, passos
pensamentos.
largos e ofegante como se estivesse
formiga em sua mão, que estava
atrasada para algum evento, que seria
encostada
mais
trouxe-a de volta à sua condição de
um
Corredor
em
sua
escuro,
triste as
existência.
luzes
haviam
A
no
picada
batente
de da
uma janela,
existência. Esfregou a mão, lavou com
queimado e o síndico ainda não tinha
água
que
fluía
providenciado a solução do problema.
torneira da pia e aproveitou para lavar
Pensava em cuidar dessa questão, mas
a louça do seu almoço. A louça tinha
também não tinha tempo suficiente para
ficado à espera de um vácuo na
se dedicar a este contratempo. Tentava
correria habitual que demarcava a sua
encontrar o buraco da fechadura da
vida
porta do seu apartamento tateando a
possibilidades perdidas, através de
chave pelo trinco da porta, até que se
ações
lembrou de usar a lanterna do celular.
minuciosamente
Conseguiu! Estava em casa. Acendeu as
tempo absurdamente cronometrado.
em
continuamente
relação
à
da
outras
sistematicamente planejadas
e e
do
luzes. Que bom eram as luzes. Era uma
A água jorrava pela torneira,
sensação de alívio e segurança. Colocou
fluía, escorria pelas suas mãos, lavava
a bolsa no sofá e foi até a cozinha.
os copos, pratos, talheres e a sua
Pegou uma maçã e começou a comer,
vida. Lavava os seus erros, a imagem
olhando pela janela da sala; a noite
que criara de si mesma, as suas
estava
personas, os seus desejos e as suas
a
cobrir
Encaminhou-se
toda
para
a
a
cidade.
sacada
do
rejeições. A água lavava mais do que
apartamento. O olhar se perdeu na
àquela
imensidão da cidade e a sua vida foi
desesperança,
tragada
ressentimentos,
pela
vaguidão
dos
seus
142
louça,
ela
purgava os
as
suas
a
sua seus dores