LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Rafaela Valverde Salvador/BA
Abstrato Instante de Solidão Lembro bem daqueles remendos que chamava de vida Eram inconstantes e infindáveis horas que se juntavam Amontoadas, fora de mim Parecia-me que entrava em mil anos em um ano O tempo não era lei E a lei ultrapassava os limites do tempo De lembrança em lembrança acordei de pesadelos Em que não habitavam nada além de tristes desapegos E as horas não passam Além de se misturarem ao abstrato instante de solidão Que me achegam como sonhos Ou seriam pesadelos-ilustrados-que-esquecem-que-a-noite-termina-e-voltam-no-dia-seguinte? E no outro E no outro Seguem sendo pesadelos e se costuram à já famigerada vida incessante lá fora O verão acaba e as pessoas continuam vivendo As horas esquecem suas asas, passam devagar e a desimportância da vida vem e paralisa todos os sessenta minutos que cabem em uma hora Lembro-me até hoje o quanto a vida era longa todos os dias E de novo E de novo Eu queria que acabasse pra eu saber como as horas passam do outro lado, do lado de fora da vida Do lado de dentro da morte De dentro da morte Da morte É possível saber alguma coisa? Não. Não E não de novo Só basta saber que não há remendos depois da morte. Ela apenas rasga E fim! https://coisasecasosfeitosefatos.wordpress.com/
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