LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Roberto Schima Salto/SP
O Tempo a Seu Tempo
O amanhecer ainda preservava resquícios da friagem da madrugada, por isso, sua pele arrepiou-se toda enquanto saía da pequena pousada e caminhava a passos lentos até as dunas. Inspirou o aroma do orvalho, da vegetação e da terra úmida, sentindo-se revigorado. Havia sido uma noite de sonhos tumultuados.
ondas que se formavam e o oceano que se estendia até o horizonte e mais além. O coração telegrafava em seu peito. Sentiu-se dominado tanto por emoções ambíguas quanto pelo cenário ao redor. O frescor da brisa. O farfalhar do mato.
O corpo agradeceu, mas a mente estava ali e em outro lugar.
A vastidão do oceano.
Era impossível ignorar a pequena urna de cerâmica em suas mãos.
Ilhotas perdidas ao longe.
Os dedos tateavam pela superfície vitrificada: pesava mais do que devia. Subiu com certa dificuldade a duna mais próxima. Sentiu a maciez da areia segurar seus chinelos. Imaginou consigo: "É ela, o corpo dela sob meus pés". O céu de um azul esplêndido e sem nuvens carregava promessas de um dia maravilhoso para os turistas que, breve, viriam. - Veja, Jenie, é como você sempre sonhou - sussurrou José para o vento. Deixou a vista perder-se pela extensão da faixa de areia lá embaixo, a rebentação em tiaras de espuma, as
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O profundo azul do céu.
Foi como desprender-se de seu próprio corpo e tornar-se parte daquilo feito uma pluma ou uma semente de dente-de-leão. Ah, como desejou que fosse possível tal fusão! Queria flutuar sem jamais ter de pousar. Sempre fora o sonho dele e dela conhecer o mar. Respirou fundo. -
Finalmente,
estamos
Jenie.
***
aqui,