LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Arthur Vieira João Pessoa/PB
A bondade é um ato de terrorismo As chinelas rascavam o chão sujo de
— A gente sabe que vocês sabe... Ele
esgoto
sabe
ressequido
e
poeira.
A
lua
que
precisamos
cruzar
os
ocultava-se em pálidas nuvens de uma
bigodes... do jeito que a coisa tá...
noite quente. Os grilos decidiram que
pra mim num funciona...
não estridulariam então. O beco da Tapa
- Tá falando do quê?
decidiu ficar em um silêncio trêmulo.
— Aí... Boda, o Irmão fala também...
Boda Gaza abriu a porta se pedir e
— É... bom sabê...
acordou o Irmão e a Irmã sem nenhuma
Boda Gaza finalmente mostrou nos
cerimônia.
braços e em sua mão foi possível ver
— Pezin, amarra o Irmão. Irmã, senta
um cutelo de 7 polegadas que reluziu
na cama e sem pantin. Aqui vai ser jogo
sob a luz incandescente de uma
rápido, né Irmão?!
lâmpada de 4 watts. Os olhos da
— ...
Irmã
— Se ajudar a gente, a gente sai e
arregalaram-se ao mesmo tempo em
vocês nem vão lembrar dessa história,
que Pezin soltou um direto de punho
né Irmã?!
cerrado que o derrubou no chão, no
— ...
que resultou num barulho abafado de
— Vixe, Boda... são calado, né?!
queda. Ao olhar aquela cena, Boda
— Só quero saber onde tá amalocado o
reprovou Pezin apenas com o olhar e
Cobal? Só isso, beleza?!
voltou a atenção para a Irmã.
As
mãos
de
Boda
Gaza
faiscaram,
os
do
Irmão
estavam
- Falei que não queria machucar
cruzadas e para trás. Pezin olhava ao
ninguém, você viu... esse Pezin que é
redor e na cintura repousava um facão
um feladaputa, desconsidera geral...
opaco e de fio bem limado que o fazia se
O irmão gemia e se enrolava de dor
sentir mais foda do que realmente o era.
no chão queimado de azul à Xadrez.
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