LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Dias Campos São Paulo/SP
Gira, gira, engrenagem
“As fontes da grandeza e felicidade de um povo, a indústria, o comércio, as artes, as ciências e as mais luminosas instituições da sabedoria, não podem prosperar senão no seio da paz e da confiança.” Quando li essa afirmação de D. Raimundo de Seixas, senti alegria e tristeza. Aquela, porque com ele concordo, em gênero e número; esta, porque a omissão ainda grassa sobre o planeta azul. Aqui, abro um parêntese, tal qual fez o nosso sempre Machado: “Sei que não tens nada com as minhas mazelas, nem eu as conto aqui para interessar-te; conto-as, porque há certo alívio em dizer a gente o que padece.” Mas se me senti triste, o desenrolar desta crônica seguramente me aliviará. Observa primeiro, amigo leitor, este estorvo à obtenção da paz, e que foi muito bem exemplificado por Scott Fitzgerald, quando do diálogo travado entre Rosemary e Tommy Bardan, em Suave é a noite: “- Vai para casa? “- Para casa? Não tenho casa. Vou para a guerra.
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“- Que guerra? “Que guerra? Qualquer guerra. Não vi nenhum jornal, ultimamente, mas creio que há alguma guerra por aí. Sempre há.” Com efeito, e como cantava Elis Regina, em Alô, alô marciano, “Pra variar, estamos em guerra...” Ao que parece, concluiriam os pessimistas, os terráqueos jamais deixarão de seguir as sandálias empoeiradas de Marte. – Neste ponto, faço questão de esclarecer que, por guerra, não me refiro apenas à beligerância em sentido estrito, mas, também, a todo e qualquer meio por que se busque tomar um poder legitimamente constituído, sejam as revoluções, os atos terroristas, a corrupção institucionalizada, etc. Já os pragmáticos talvez se espelhassem em Remy de Gourmont, para quem “Tem-se a paz, quando se pode impô-la”. – Ah! Essa pax romanorum que volta e meia ressuscita!... É por essas e por outras razões que muitos acabariam concordando com o poeta Luís Murat: “Paz, em