LiteraLivre Vl. 5 - nº 30 – Nov./Dez. de 2021
Gislene da Silva Oliveira Paragominas/PA
Desenlace Comecei a fumar aos dezessete anos. Ainda recordo com exatidão o primeiro maço comprado. Estava de férias na Ilha do Cotijuba-PA, na companhia de amigos, pedi um trago, mas eles, todos fumantes, recusaram-se a ser mal exemplo e não entregaram em minhas mãos o objeto do desejo adolescente. Ainda ouvi um sermão, fundamentado no que minha mãe poderia falar. Fiquei chateada, ofendida até. No ego da minha imaginada adultice, ferida como uma criança. E foi então que, tal uma criança malcriada, fui até o bar mais próximo e cheia de pose: “Moço, venda-me uma carteira de cigarro, por favor!”. Acho que nunca mais na vida usei o verbo vender com a mesma entonação. Era o poder da compra do desejo negado. Naquele tempo, as propagandas de cigarro eram convidativas ao poder e à liberdade e não havia leis de restrições de vendas para menores. Quando criança, ia com frequência a tabernas e quitandas comprar cigarros para meus pais. E até sabia as marcas mais conhecidas Minister, Continental, Hollywood, Malboro e Cônsul. A que comprei não lembro, mas sei que voltei para a roda de amigos de cabeça erguida, exibindo o troféu em forma de
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carteira de cigarros, acomodei-me junto ao grupo, que tocava violão e, cerimoniosamente, acendi meu primeiro cigarro. A tragada inicial veio adocicada pelo gosto da realização, mas foi seguida pelo ardor fumegante que me rompeu o peito e sufocou a garganta de tal forma que os amigos vieram ao meu socorro, pois eu padecia de uma tosse engasgadora, falta de ar e uma incontrolável vontade de expulsar pela boca todos os órgãos internos do meu corpo. Humilhada e lacrimejante, eu parecia um vulcão prestes a entrar em erupção, soltando anéis de fumaça pelos sete buracos da minha cabeça. Depois do auxílio inicial, é lógico que os meus amigos, não iriam perder a oportunidade de terminar o sermão e fazer aquela chacota básica que somente os bons e verdadeiros amigos sabem fazer. Fiquei suando frio, pálida, resfolegante, ouvindo-os cantar em minha homenagem “A tonga da Milonga do Kabulete”, especialmente os versos: “Você que fuma e não traga... E que não paga pra ver”. Não me dei por vencida. Acordei cedo para caminhar na praia, peguei a bolsinha de crochê e, pasmem,