preensão que eu tinha daquela gente da Revolução Francesa sentir-se tão indignada com as classes superiores307.
* Paralelamente, eu vi os ritmos da civilização industrial entrarem em São Paulo e banirem os ritmos antigos. E vi a civilização industrial tomar conta e encher o ambiente com um ritmo industrializado, mecânico e apressado, que me parecia um ritmo não homogêneo. Mas, na medida em que era o contrário dos ritmos antigos, constituía uma onda de ritmos diferentes que expulsavam os outros ritmos diversos. Ficava indignadíssimo! Porque eu era inteiramente solidário com as cabras e com outras coisas do gênero. E oposto completamente aos ritmos novos. Esses ritmos antigos, foi fácil destruí-los, porque eles, antes de estarem destruídos, estavam mofados. E mofados de um mofo, de uma velharia que nem sei o que dizer. Desta forma, toda a atmosfera interiorana, toda a atmosfera tradicional tinha ficado anquilosada, parada, caminhando para a podridão, para a incapacidade de produzir congruentemente consigo mesma. E ia aparecendo uma coisa nova que propiciava uma situação em que fossem construídas coisas incongruentes com ela. Assim, a alternativa que ficou foi: ou entrar com ela no cemitério, ou adotar a incongruência para fugir do mofo308. O “senso do absoluto” No período em que essas primeiríssimas impressões iam se formando em mim, eu me lembro de ir registrando muitas coisas, aqui, lá, acolá, e as mais diversas, desde uma luz acesa na vitrine de uma casa comercial, até, pouco mais adiante, alguém que ouço cantando ou tocando uma música no piano; ou um tapete que eu vejo e cujo desenho me agrada; ou ainda um cachorrinho lulu muito vivo, branco, com aquela bonita mancha bege a certa altura do corpo, e com as orelhas também beges. Olhava para aquele cachorrinho e o achava bonitinho. Gostava muito da combinação branco com bege. E me perguntava: “Por que é que eu
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MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL