A aurora do entusiasmo pela boa ordenação da ordem temporal e pela Cristandade A inocência primeva continuou em mim durante muito tempo. E a amei intensamente – esta é a questão – enquanto encontrando o seu modelo na Igreja. Mas também a amei enquanto existente na sociedade temporal. No ambiente da minha casa, no modelo de minha casa, havia qualquer coisa disso. Uma ponta de sobrenatural que acompanha certos objetos antigos se fazia sentir a mim muito vivamente nela382. Posso dizer que uma das características de minha formação de espírito foi Nossa Senhora me ajudar desde muito cedo a perceber, com a facilidade própria a um menino, o reflexo de Deus nas coisas temporais, e não apenas nas coisas espirituais. Via as coisas espirituais e deleitava-me. Mas não tinha a tendência de passar a vida inteira dentro de uma igreja. Teria ficado muito contente, me teria honrado se isso me acontecesse. Mas não foi o que se passou. Eu não era de ir muito à igreja. Mas quando ia, deitava muito as “antenas” para o eclesiástico e o sobrenatural que ali havia, e com enorme complacência de minha alma, com enorme atração de minha alma, não tem dúvida. Mas, ao mesmo tempo, nas coisas temporais, na sociedade material, também gostava enormemente de ver quando elas eram corretas, bem ordenadas. E parecia-me ver ali uma superioridade e um atrativo, que depois, mais tarde, com o estudo e a reflexão, compreendi que era uma semelhança de Deus383.
* A forma de uma cadeira, a forma de um lustre pode me lembrar alguma coisa que, em última análise, lembra outra, outra, outra, e acaba tocando em Deus. Por exemplo, meninote ainda, eu estava numa casa onde serviram o lanche com um faqueiro delicado para cortar um bolo. A lâmina do faqueiro era banhada a ouro ou uma liga de ouro, e o cabo era feito com uma madrepérola lindíssima, delicadíssima, como poucas vezes vi. O copeiro veio trazendo tudo aquilo junto, numa bandeja, e foi servindo para as várias pessoas. 382 MNF 15/9/89 383 SD 9/6/79 200
MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL