Os senhores estão vendo que eu já fazia um pouquinho de estratégia política: o avanço, o recuo, o conforme, o estudo da situação. Algumas coisas que eu teria que exercer várias vezes no futuro, comecei a exercer sentado sobre o peito de minha mãe e abrindo os olhos dela, quer dizer, jogando a cartada do máximo risco para sair de uma aflição que chegava ao extremo497. De repente, ela saía do fundo do sono dela e me via olhando para ela. Quando acordava, imediatamente ela se punha sentada na cama e se voltava para mim: – Filhinho, o que é que você quer? – Uma história. Notava que ela estava morta de sono. Mas contava a história e depois perguntava: – Você quer outra, meu filho? – Quero! Isto era feito com tanto afeto, entrando tanto dentro dos lados miúdos de minha alma, e me querendo tão bem por ser filho dela498 que, à medida que ela ia falando, ia me tranquilizando e o sono naturalmente ia subindo499. E quando ela de novo me fazia deitar na cama, vinha-me a reflexão: “Propriamente, com ela eu me arranjo até o fim. Ela não me recusa nada, e com ela posso contar até onde for500. Confio inteiramente nela”. E, como recíproca, sentia-me inteiramente dela. Daí um entrelaçamento à fond perdu, até onde fosse o caso501. Isto tudo preparava o quê? Evidentemente uma coisa muitíssimo maior: a devoção a Nossa Senhora. Quando rezo a Salve Regina e o Memorare, tenho a impressão de fazer com Nossa Senhora um pouco como abrir os olhos de mamãe, não no sentido físico da palavra, em que eu me atrevesse a pôr meus dedos nas pálpebras celestes d’Ela, nunca! Mas em dizer a Ela coisas que abrissem a sua misericórdia, como os meus dedos abriam os olhos de mamãe, compreendendo que súplica do filho aflito é ouvida e que eu posso suplicar com confiança, porque nunca serei mal recebido502. 497 Jantar EANS 11/10/85 498 Chá EPS 27/1/95 499 SD 14/8/93 500 CSN 31/8/85 501 CSN 25/4/92 502 Jantar EANS 11/10/85 280
MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL