Eu era muitíssimo afetivo e cheio de apegos à minha família, em todos os graus possíveis45. Emotividade sem vibrações Sou talvez o menos vibratório dos homens46. Assim, diante das coisas, sinto em mim mesmo o que sentiria um espelho diante daquilo que nele está projetado: as coisas que se passam diante de mim não me causam particular emoção. Já internamente, pela razão e pela vontade, posso gostar muito ou excluir muito. Isto dá em truculência47 de aplausos ou de porrete. E se traduz em tudo, até na minha inflexão de voz. Mas na hora do porrete ou na hora do aplauso, o meu temperamento está átono, sem vibração48. E assim pode acontecer que uma alma como a minha, muito expansiva, muito comunicativa, muito afirmativa, muito ativa ad extra, seja ad intra uma alma muito tranquila, muito serena, muito estável. De maneira tal que, mesmo as coisas grandes que se passam dentro dela, se passam com uma serenidade de quem está navegando num rio que não tem agitações. Os senhores me viram em todas as situações possíveis. Viram-me em momentos de muita alegria, viram-me até no dia da morte de Dona Lucilia. Mas devem ter notado que a minha reatividade não está em proporção com o que se teria o direito de achar que é de acordo com a ordem das coisas. Por exemplo, na nossa viagem à Europa em 1988, notava que minhas manifestações exteriores eram muito menores do que aquilo que eu estava achando. E notava que era por um mecanismo interno qualquer que não sei exprimir. Em Chambord, por exemplo. Estava encantado com Chambord, mas o que se refletia na minha fisionomia era muito menos do que o comentário que faria de Chambord depois. Ad intra, eu me achava numa relativa imobilidade, numa relativa atonia. A parede entre a minha alma e o que lhe é exterior não dava a entender o que se passava parede adentro. E isto se dá comigo em quase todas as coisas, mesmo naquelas que mais seriam próprias a arrancar de mim exclamações49. 45 Jantar EANS 4/5/92 46 RR 20/8/73 47 Dr. Plinio costumava empregar esta expressão em seu sentido não pejorativo, para exprimir a afirmatividade de sua posição enquanto católico. 48 CSN 21/3/81 49 CSN 7/11/81 1ª PARTE – O MENINO PLINIO 37