Daí nasceu em mim um gosto de analisar tudo segundo a ordem, e não segundo o que me agrada, e amar o que é conforme à lógica, e a não querer o que não for conforme a lógica. O gostoso ou não gostoso representa algum papel na vida de um bom gastrônomo, como fui a vida inteira. Mas é um papel de quinta categoria. Posso apreciar e elogiar muito um prato, mas isto para mim se passa nos arrabaldes, nos subúrbios da existência. A minha reação é realmente ver se determinada coisa está conforme o bem, se está conforme a ordem, se concorre para a ordenação geral adequada das coisas ou não concorre. Agora, tinha de ser, nessa ordem de coisas, que eu fosse desde logo muito propenso ao princípio de autoridade, por ser este princípio, segundo a noção de ordem, incumbido de manter a ordem no lugar. Portanto, para mim, todo o detentor da autoridade – ainda mais naquele tempo, em que as coisas estavam longe de estar deterioradas como hoje – eu o sentia como um aliado contra as possíveis desordens que havia. Daí a minha propensão contínua a reverenciar o princípio do respeito à autoridade. E também, em consequência, a ter uma admiração muito grande pela elevação, pela coisa alta que é a autoridade. Era o próprio princípio do amor à ordem levando ao amor do que é mais alto, porque a ordem se mantém secundariamente pelos seus agentes subalternos, mas ela é mantida principalmente pelos seus agentes supremos. Donde, para mim, aquele que está investido de uma supremacia, deve ser objeto de um respeito especial, de uma adesão especial, de uma elevação especial e de uma admiração especial. Saber que existe a autoridade, e que a autoridade deve exercer-se como eu via que ela era exercida naquele tempo, me enchia de regalo. Assim como uma pessoa com uma sensibilidade decorativa muito forte pode regalar-se considerando uma sala muito bem florida, assim também a vida humana tem os seus adornos. E o mais belo dos adornos da vida humana é o esplendor da autoridade que rege a vida98. Propensão para a radicalidade e para a luta Olhando para fotografias minhas do tempo de pequeno, noto essa espécie de empuxe primeiro contra toda forma de mal, e de preferir, a qualquer comodidade, a destruição desse mal.
98 Chá SB 22/5/91 1ª PARTE – O MENINO PLINIO 57