Desde muito menino eu me encantava com os jogos de cores145.
* Mamãe às vezes colhia uma flor, e tinha a disposição de alma de – eu chegando –, me mostrar a flor: “Olha aqui, que bonita esta flor!” Eu verificava que o modo de ser dela era muito diferente do meu. Porque ela entrava nos últimos pormenores da análise da flor e com um verdadeiro enlevo. Por exemplo, uma flor comum ela segurava, analisava, mexia. E via-se que ela pensava muito em Deus enquanto tendo criado isso. Há que considerar que o meu modo de ser era próprio do homem, e o modo de ser dela mais próprio da senhora. Então eu via a flor como uma espécie de grande mancha de cor, e a cor me impressionando muito mais do que a forma146. Predileção pelo vermelho Para mim o vermelho é uma cor que simboliza tudo quanto há de apetecível, de agradável, de riqueza de ser, exposta em alguma coisa de modo cromático, de maneira a atingir o meu sentido da vista, e dar à minha vista uma impressão semelhante àquela que teria o intelecto quando medita sobre a vida. Por que o vermelho dá essa impressão de vida? Acontece que o vermelho é uma cor que se diferencia das outras, tal como o que é vivo se diferencia do que não é vivo. A pessoa, vendo esta cor, tem a sensação ilusória, ou não ilusória, do contato material da vida enquanto vida147. O vermelho era, portanto, para mim o símbolo de toda a vida, de toda a vitalidade, de todo o borbulhar, de tudo aquilo que tinha saúde148 e força149, de tudo aquilo que se realizava na alegria de sua própria realização. Era a cor do deleite do dever cumprido.
145 Chá SRM 6/1/94 146 Almoço EANS 8/11/91 147 Almoço EANS 18/10/91 148 Jantar EANS 13/9/88 149 Chá SRM 6/1/94 1ª PARTE – O MENINO PLINIO 79