Meu Itinerário Espiritual - Compilação de relatos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira vol 1

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Correlação entre o apetite mental e o apetite físico, entre a vontade de saber e a vontade de comer A heresia branca205 tentou constituir uma imagem da virtude segundo a qual o homem virtuoso teria de ser um dispéptico, sem fome, sem sede, sem gosto de nada daquilo que torna a vida humanamente agradável, e no fundo sem civilização. Ora, essa não é a verdadeira figura do católico206. Por exemplo, a gastronomia. Acho que a gastronomia, como tudo que o homem faz, é susceptível de ser vista de uma grande altura, dependendo do homem que a manuseia. Há uma escola de gourmets, quer dizer, daqueles que gostam da qualidade da comida mais do que da quantidade, que sustenta que a verdadeira gastronomia não consiste principalmente no preparar sabores fortes e apreciá-los, mas no preparar sabores delicados e cheios de pequenos matizes e entendê-los. Eu já acho que a perfeição da gastronomia consiste em ter a capacidade de apreciar uma coisa e outra. Esses são os pontos em que devemos ser ecléticos, e que o ecletismo dá uma síntese verdadeiramente de valor207.

* Também o apetite mental deve ser como o apetite físico. E o bom dele é que nutre. Um apetite vacilante, trêmulo, que se exprime numa consulta feita com voz bamboleante e tímida, isso é uma forma de inapetência do espírito, que é uma expressão da indefinição. 205 Dr. Plinio qualificava de heresia branca a deformação da espiritualidade católica que consiste em manter a ortodoxia em matéria teológica (por isso, não é heresia “negra”, mas “branca”), mas aceitando plenamente a Revolução nas tendências, tanto no seu veio igualitário quanto no seu veio liberal. Assim, uma pessoa afetada por essa deformação espiritual tem total desinteresse – quando não, verdadeira ojeriza – por tudo aquilo que na religião fala de grandioso, de maravilhoso e de sacral – é o seu aspecto igualitário. Concomitantemente, põe em surdina o caráter militante da Igreja e da espiritualidade católica, rejeitando a luta, a vigilância, os anátemas etc. e julgando que todo o mundo é bom e que basta sorrir para atrair as almas para o bem – é o seu aspecto liberal. Daí resulta uma religiosidade fideísta, na qual a razão não desempenha nenhum papel, e uma piedade egocêntrica, introspectiva, adocicada e sentimental. Exemplo de heresia branca são as estátuas, quadros e imagens (“santinhos”) representando os santos no estilo da escola artística “sulpiciana”, da segunda metade do século XIX (assim chamada por causa das lojas de artigos religiosos na vizinhança da Praça de São Sulpício, em Paris). 206 Chá PS 12/11/90 207 RR 5/4/69 1ª PARTE – O MENINO PLINIO 97


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ÍNDICE DE LUGARES

1min
pages 296-302

ÍNDICE ONOMÁSTICO

3min
pages 292-295

As duas formas de auxílio de Nossa Senhora

3min
pages 290-291

A graça de Nossa Senhora Auxiliadora

17min
pages 281-289

O combate contra a preguiça e o amor crescente à combatividade

43min
pages 257-278

O combate contra a falta de vigilância

4min
pages 255-256

A formação de um primeiro filtro interior, católico e contra-revolucionário, anti-“heresia branca”

18min
pages 243-251

As primeiras noções da própria miséria

3min
pages 253-254

O combate para preservar o modo de ser cerimonioso, fazer-se respeitar e obter uma situação de superioridade

5min
pages 240-242

O combate externo contra a visão prosaica e interesseira da vida e contra o espírito hollywoodiano

31min
pages 224-239

O combate para preservar uma criteriologia inocente e cheia de Fé

9min
pages 219-223

O desenvolvimento do amor pela lógica

9min
pages 206-210

O combate contra a tentação da mediocridade

5min
pages 216-218

A aurora do entusiasmo pela boa ordenação da ordem temporal e pela Cristandade

9min
pages 201-205

O itinerário desde os movimentos incipientes e inconscientes de piedade, até a comunhão frequente

10min
pages 193-197

O amadurecimento do amor pela ordem monárquica do universo

6min
pages 198-200

O pórtico de entrada da vida espiritual de Dr. Plinio: a devoção ao Sagrado Coração de Jesus ensinada por Dona Lucilia

10min
pages 183-187

O crescente amor à Igreja Católica

9min
pages 188-192

Felicidade de situação

12min
pages 172-179

O senso metafísico

7min
pages 149-152

Uma axiologia sã e firme: a ordem do universo é fundamentalmente boa

2min
page 171

Alegria pela harmonia entre a ordem interna e externa e a facilidade para fazer correlações

12min
pages 163-168

Certezas sólidas, filhas da admiração e fundadas nas evidências fornecidas pelos sentidos e na retidão interna da alma

4min
pages 169-170

O senso do sacral

8min
pages 158-161

O “senso do absoluto”

5min
pages 153-155

A vontade de explicitar

2min
page 148

As canduras de uma alma inocente

6min
pages 142-144

Atrativo pela boa ordenação da sociedade temporal e pela cultura

5min
pages 139-141

Amor à arquetipia

4min
pages 132-133

Aspiração pelo mundo angélico e pelos horizontes da Fé

10min
pages 134-138

Trato cerimonioso e cortês

3min
pages 126-127

Solenidade que impõe respeito

3min
pages 128-129

Equilíbrio entre mobilidade e imobilidade

3min
pages 120-121

Modo de escrever: frases longas, papel horizontal e prancheta, sentado numa poltrona

1min
page 119

Senso vivíssimo da própria dignidade

1min
page 110

Gosto em analisar os ambientes

2min
page 106

Gosto pela largueza física e pela bonomia

5min
pages 107-109

Correlação entre o prazer do corpo e o prazer da alma, entre a sede física e a sede metafísica

9min
pages 100-103

O reverso da medalha: incapacidade de elaborar

2min
page 105

Correlação entre o apetite mental e o apetite físico, entre a vontade de saber e a vontade de comer

4min
pages 98-99

Alcance simbólico do paladar

3min
pages 96-97

Alimentos de que se gosta ou se rejeita por razões físicas ou metafísicas

3min
pages 94-95

Predileção pelos pães alemães e pela cerveja

3min
pages 92-93

Preferência pelos alimentos elaborados

3min
pages 90-91

O SENTIDO DO TATO

1min
page 88

O SENTIDO DO OUVIDO

9min
pages 82-86

O SENTIDO DO OLFATO

1min
page 87

Predileção pelo vermelho

3min
pages 80-81

Carência de “nós” temperamentais

1min
page 75

Um reflexo particular da harmonia temperamental: o equilíbrio entre pessimismo e otimismo, entre confiança e desconfiança

7min
pages 71-74

Equilíbrio temperamental resultante da temperança e do gosto pelos opostos harmônicos e pela unidade dentro da variedade

11min
pages 65-70

Propensão para a truculência e para as soluções “transiberianas”

9min
pages 60-64

Propensão para a radicalidade e para a luta

3min
pages 58-59

Propensão para a ordem e para a reverência à autoridade

2min
page 57

Harmonia entre contemplação e ação

3min
pages 55-56

Propensão para a lógica e a clareza de expressão

5min
pages 52-54

Propensão para a reflexão, a seriedade e a gravidade

4min
pages 49-51

Propensão para viver numa clave transcendente, aristocrática e grandiosa

5min
pages 46-48

AO LEITOR

31min
pages 14-29

INTRODUÇÃO

4min
pages 30-33

Propensão para a calma, para o sossego e para degustar a normalidade da vida

6min
pages 42-45

SIGLAS DAS FONTES BIBLIOGRÁFICAS

2min
pages 10-13

Síntese do temperamento nativo

5min
pages 35-37

MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL

2min
pages 7-8

MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL

0
page 9

Emotividade sem vibrações

7min
pages 38-41
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