ILMA FONTES
(1947)
Poeta e escritora sergipana, psiquiatra e legista, trocou a medicina pelo jornalismo, cinema e ativismo cultural. Não publicou nenhum livro de poesia, mas participa de um sem número de antologias como New Poetryofthe World (China), Dimensão(revista íbero-americana de poesia), Nova Poesia Brasileira(1992), Catálogo da Produção Poética dos Anos 90(1995)
CONFIDÊNCIA DA ARACAJUANAC Há anos morri em Aracaju, principalmente no dia em que nasci. Por isso sou gay, orgástica: de nuvem. Dois por cento de cajuína na alma dois por cento de fel nas calçadas e esse alegramento do que na vida é pluralidade e solidão. A vontade de amar, que me impulsiona o trabalho, vem de Aracaju, de suas noites azuis onde sobram mulheres e horizontes. O hábito de mexericar, que tanto dilacera, é amarga herança aracajuína. De Aracaju levei poucas prendas que posso oferecer: um búzio sujo de petróleo, que trago no peito um pensar desembestado como um defeito essa falta de jeito, nenhum sofá nem sala de estar, nada em volta. Tive mesas, tive cadeiras, tive divãs! Hoje, não sou funcionária pública. Nem médica psiquiatra. Jornalista por ofício com vício de cineasta, viro o videócio na videocidade. Saudade. Aracaju é apenas um cu - mas como dói!
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AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA